17/09/2010 - Calado
Hoje não tem texto. De repente, roubaram-me de uma só vez todas as palavras, das mais genéricas as mais íntimas. É como se não existisse linha ou verso algum dentro de mim. Estou vazio de frases, de rimas, de concordâncias. Estou ausente de expressões, aliás, estou inexpressivo. E por mais que eu chame, implore, humilhe-me, a inspiração não dá o ar da graça. Não. Realmente não tem graça. Tento juntar pontos, vírgulas, aspas, mas há sempre uma interrogação em meu caminho.
Será que estou oco? Oco de vida. Oco de idéias e ideais. Oco de fantasia, de prosas e poesias. Oco de imaginação. Oco de realidade e ficção. Oco de sentidos. Oco de sons e vozes. Oco de estrelas e sementes. Oco de histórias e lendas. Oco de dramas, tragédias e romances. Oco de dores e saudades. Oco de caminhos. Oco de expectativas e lembranças. Oco de sonhos e pesadelos. Oco de contos e crônicas. Oco de chamas, conversas e corações.
Realmente, hoje não tem texto. Os meus olhares estão vazios de letras, de algarismos, de símbolos. A minha boca é uma lauda nua. Minhas mãos se perdem sem pauta. Não há qualquer tipo de comunicação vigorando em meu corpo no dia de hoje. Em mim, só existe um vento silencioso devastando qualquer possibilidade literária. E essa ventania vem sem ecos ou mensagens subliminares. É um dos silêncios mais calados que já testemunhei.
Um silêncio que pode me calar para sempre.
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