16/02/2008 - Caçador de estrelas
Era certo. Lá pelas sete e meia da noite, depois de jantar no rabo do fogão a lenha, ele corria para o terreiro. Seus pais, já acostumados, não falavam nada. Afinal, àquela hora as lidas da roça já estavam feitas. As viagens daquele menino de onze anos tinham pouso certo. Perto da cerca do curral, do pé de araçá, do arado velho.
Toda noite, sentava-se ali, na espinhela do arado, para vigiar o céu de estrelas. Dizia que elas se movimentavam e até cantavam baixinho. Sem saber as figuras zodiacais, enxergava vacas, bodes, anjos, galinhas e peixes naquele céu negro. Ficava mudo e estático para não assustar suas estrelas. Apenas as espreitava. De repente, partia em carreiro em busca de uma luz cadente.
Queria achar o ninho de uma estrela caída. Queria tocar suas pontas. Em seus pensamentos, estrela era coisa pequenina que cabia no bolso. Se conseguisse pegar uma não mais a soltaria. Porém, dia após dia tinha de se contentar com os vaga-lumes que estrelavam o mato.
A captura de uma estrela era ideia fixa. Nas noites de tempestade, entrava em desespero. Seu maior medo era de que, com a ventania, as estrelas caíssem todas de uma vez e outros as pegassem. Por isso, sempre que ia dormir deixava armadilhas pelo terreiro. Só assim, sonhava tranquilo.
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