28/04/2011 - Brilhar, brilhar, brilhar
Mande notícias, mande postais, mande sinais... Quero notícias do brilho dos seus olhos que não brilham mais. Será que suas estrelas caíram ou submergiram na névoa espessa que cobre seus olhares. Quero informações do ocorrido, todos os detalhes do que tem vivido e sofrido. Mande notícias de dentro de você, das mais banais às mais complexas. Fale dos caminhos que tem percorrido, dos vinhos que tem bebido, dos carinhos que não tem recebido. Fale das suas frustrações de mocinha, dos seus sonhos de vilã.
Quero pistas, abstratas ou concretas, tanto faz, tanto tempo faz, sobre o paradeiro do brilho dos seus olhos que brilhavam como duas ametistas. Procurei nos floristas, nos baristas, nos equilibristas e nada de encontrar aquelas luzes que já não luzem. Seus olhos carregam a dor de duas cruzes. Seus olhos pesam. Seus olhos sangram. Seus olhos imploram. Ah! Pra onde levaram seu brilho? Por que mataram suas fantasias? Por que lhe arrancaram a poesia? Foi-se o mar, ficou a maresia.
Mande notícias, mande postais, mande sinais... Que tristeza é essa capaz de esconder a beleza dos seus olhos alaranjados em feitio de fim de tarde de outono. Sem ele seus olhares naufragam por um horizonte vazio que arde de frio. Do frio da ausência. Do rio da saudade. Do fio da penitência. Ah! Posso imaginar o quão nua e cega anda pelas ruas da cidade despida do brilho que brilhava em seus olhos como duas velas que sentem prazer em queimar e adorar o criador.
Ò, criatura, por deus nosso senhor, espanta a dor e brilhe outra vez pondo fim a minha viuvez de notícias, de postais, de sinais dos brilhos teus.
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