20/04/2010 - Brasília, que cidade é essa?
Ora, a poeira esbranquiçada sobe erguida pelo vento encontrando-se com a vermelhidão do sol. Ares de sertão. Ora, o mesmo vento lambe as águas do lago oceano criando ondas que transformam a cidade. Ares de litoral. Brasília, que cidade é essa? Que cidade é essa que não tem praça da matriz? Que cidade é essa que não tem esquinas? Que cidade é essa onde os prédios não têm muros? Não! Não quero falar da Brasília da política, tampouco da Brasília das invasões ou das mansões. Quero falar da cidade paisagem.
Uma cidade alargada em seu horizonte. Assim como suas avenidas centrais são fartas em largura, a linha que divide céu e terra se estende atmosfericamente larga. Por isso, durante a noite as estrelas fazem a festa. Quanto maior o palco, maiores os movimentos e o show destes pontos luminosos de três, cinco, oito pontas. Já durante o dia, protejam-se do sol, que abusa do direito de ser grande. Pelo céu de Brasília, cercado de muito azul, o sol queima à vontade. Que cidade é essa?
Como parte das construções, o povo vai como gado, numa comitiva de esperança, caminhando entre a seca e a cheia. Meses e meses sem chuva, de uma aridez pungente, da epidemia do cinza, do suor engravatado. Em seguida, a temporada das chuvas. Chuvas que trazem novamente o verde, que vingam os pequis, que calam os incontáveis grãos de poeira, que alimentam o lago mar. Que cidade é essa? Brasília do concreto, da artificialidade. Brasília dos ipês, das flores se dando entre as pedras.
Brasília, cinqüenta anos vivendo uma instabilidade chamada vida.
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