10/12/2008 - Barbárie, barbárie
Quero um elmo, uma armadura, um escudo e um cavalo marchador. Não, não quero ser um cavaleiro da Távola Redonda ou um novo Dom Quixote de La Mancha, quero apenas passar incólume por essa multidão que não sabe para onde e nem por que o vai com esse passo desmedido, corrido, iludido. Quero blindar-me, quero isolar-me, quero exorcizar-me desta seita de passistas e motoristas e ciclistas e motociclistas - os artistas do caos. E enquanto as donzelas se fartam dos bárbaros que passam sobre suas janelas, as senhoras da sociedade expurgam: barbárie, barbárie!
Com o findar de mais um ano, as convulsões aumentam, as hemorragias aumentam, as sangrias dessa gente sem hora nem lugar aumentam num ritmo gritante, alucinante, torturante a ponto do cotidiano se tornar uma tarefa impossível de ser cumprida. Se atravessar a rua, tomar um sorvete, passear de mãos dadas são gestos e ações que beiram o absurdo nesta época em que está aberta a temporada do caos, o que dizer de ir ao banco ou às compras? Há uma horda lá fora a espalhar pólvora e medo pelos sonhos de Natal. Barbárie, barbárie.
Para que tanto desespero? Onde estão os reis magos no meio dessa multidão? Para que tanta agonia? Será que fogem de Herodes? Para que tanto destempero? Alguém viu Maria? É uma gente sem rosto, sem gosto, sem posto que tromba em nós e nos tomba ao caos. Nem noivos conseguem dizer - enfim sós - no meio deste caos dezembrino. No entanto, ao invés de cânticos de amor ao Redentor, gritam as cornetas do apocalipse. E se a barbárie foi declarada, só me resta querer um elmo, uma armadura, um escudo e um cavalo marchador.
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