Daniel Campos

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18/07/2013 - Atriz

Depois do último ato, desça do palco, vire, revire-se e tire camada por camada todo talco do rosto, bem como toda fantasia e figurino que lhe escondem o corpo, dispa-se também dos aplausos e das falas que ainda balbuciam pela sua garganta, esquecendo-se também dos dramas e tramas vividos há pouco e das visões da plateia e de outros personagens, sejam eles do bem ou do mal, da rainha ou da plebeia, da ficção ou da vida real, e volte-se para o espelho, no íntimo retrato de seu rosto nu, e se beije, e se deseje, e se relampeje de pensamentos e sentimentos que são tão seus quão próprios de você, trocando de pele por dentro e por fora, como serpente e útero, numa metamorfose sem começo nem final, numa apoteose de sensações, numa overdose de emoções, numa mudança de físico e de astral, que faça você se reencontrar com você, por entre lágrimas e prazer, por entre maldições e bem-querer, por entre o infinito e o finito que se fundem em sua cara desarmada de autos recheados de literatura e poesia, independentemente se amada ou desalmada, mas humana em sua plenitude de mulher ou de menina que sabe o que é, o que quer e para onde vai depois que se fecham diante de você as cortinas do espetáculo libertando os tentáculos da solidão que não se cansa de lhe pedir bis como se ser sozinha fosse o fio do enredo para ser feliz, como se um coração de carne não batesse no peito da atriz, que precisa de muita coragem para não dobrar os joelhos e se despir de toda paisagem dramática e fantástica, de toda sua formação e informações, da primeira a última floração passando por suas inflorações, e se olhar no espelho e dizer que “sou flor de lótus, flor de sal, flor de lis”, “sou de sonhos pueris e de meretriz”, “sou perfume, esperança e quadris”, “sou do sexo das rosas e das prosas e silêncios dos fuzis”, enfim, por fim, no fim, é preciso sim de muita coragem para não ceder aos apelos dos profetas e profecias do que é ser feliz, olhar-se no espelho e dizer “sou exatamente e tão somente o que quero e o que quis”.


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