Daniel Campos

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15/02/2008 - Até tu, Milton?

Sei que ainda existem milhares de trabalhadores escravos. Sei que a Lei Áurea, a CLT e a Constituição nunca foram cumpridas por todos. Sei que desde 2004, fruto de acordos internacionais, já foram libertados mais de 27 mil trabalhadores de fazendas situadas principalmente no Pará, Bahia e Tocantins.

O que eu não sabia é que o pai do meu super-herói preferido será julgado pela Justiça do Trabalho da Bahia como réu em duas ações por prática de trabalho escravo. Em uma fazenda de seis mil hectares no oeste baiano que tem como um dos proprietários o Sr. Milton Senna foram resgatados 82 trabalhadores e emitidos 29 autos de infração.

Recebi tal notícia como uma punhalada pelas costas. Além dos títulos, das vitórias, dos recordes, Ayrton nos deixou uma herança moral. Influenciou toda uma geração seja na vontade de vencer, na capacidade de sonhar, na busca pelos próprios limites, no amor pela pátria, na luta por um país melhor.

"Os ricos não podem mais viver numa ilha rodeada por um mar de pobreza. Nós respiramos, todos, o mesmo ar. Devemos dar a cada um, uma chance, ao menos uma chance fundamental." Servidão por dívida, condições subumanas de higiene e saúde, alimentos estragados, exposição indevida a produtos químicos e aliciamento ilegal estão longe de ser enquadrados como a chance referida por Ayrton.


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