Daniel Campos

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18/04/2008 - Ataque e contra-ataque

O Brasil precisaria ser um time, de carne e espírito. O nosso time do coração. E o maior de seus títulos devia ser a felicidade de cada cidadão. Brasil, meu Brasil brasileiro, texto de um estádio e pretexto de uma várzea. As chuteiras dos governantes deviam ter as marcas de uma dedicação total. Aliás, nem presidente, nem deputado, nem governador deviam jogar de salto alto. Todos deviam estar no mesmo nível desse tapete verde e amarelo. Afinal, mesmo tortos, os passos dessa gente guerreira são poéticos como as pernas de um anjo que já foi jogar em outro lugar. Que me perdoem os intelectos, mas nossos garranchos são garrinchas.

Somos pelés e didis. Temos o peso de uma camisa 10 nas costas e a leveza de uma folha seca nas pernas. Dia após dia, somos obrigados a jogar à frente, em frente, de frente. Em cada jogada pelo salário no fim do mês, arrojo e ousadia tabelam dentro de nós. Driblamos as barreiras e finalizamos com a precisão de um rei ou com a paixão de um plebeu.

Gingamos para lá, gingamos para cá. Fintamos tantos impedimentos. E ainda somos solidários. Isso mesmo. Essa gente ai, periferia brasileira, é solidária. Não é a toa que cruzamos com a exatidão das pernas de uma mulher fatal. Estamos nas gerais. Estamos no centro e nas laterais. Estamos onde a nossa vontade de sobreviver precisa estar. Defendemo-nos dos ataques e dos contra-ataques dos que querem ganhar o jogo no tapetão como um arqueiro que tem nas mãos as linhas de cal do próprio destino. Torcemos e vibramos por esse país.

Nos concentramos, treinamos, estudamos, enfim, nos preparamos para ser brasileiros de fato e de direito. Para o Brasil, o nosso melhor e o nosso suor. Nossa fome de vitória é plena. Nossa relação de querer um futuro melhor é direta como um pênalti. Ao contrário de uma elite que fica na banheira, cavamos os lances perfeitos. Para nós, cada novo dia é mais uma final de campeonato. Temos os pés nos chão e os olhos nas estrelas. As idéias correm soltas pelos gramados das nossas cabeças apaixonadas. No jogo da vida, nosso placar nunca fica no 0x0, temos sempre um gol a oferecer. Embora somos amadores, nosso objetivo é o espetáculo. Desde o primeiro encontro, nossa relação com esse país é um clássico.

De caneta ou bicicleta, nossa jogada é sob medida para conseguir o reconhecimento. Mesmo simples, nossas jogadas são compostas. Mesmo individuias, nossas jogadas são coletivas. Como soldaddos, nossos passos passam pela estratégia mais estrategista. Temos que colocar na prancheta todas as contas e inventar uma matemática futebolística que dê conta delas. No entanto, o que nos dá identidade são os arroubos do improviso mais improvisado. Queremos a euforia, o grito de alegria, a sensação de carnaval. Cada um de seu jeito, buscamos uma explosão, um Big Bang de prazer sem tradução.

Estamos, ao mesmo tempo, no palco e nos bastidores dessa pátria. Somos uma trama de pensamentos e emoções. Alcançamos uma interconectividade extrema com quem levanta a nossa bandeira. E de certa forma, nosso entrosamento com esse pais, é natural, real e vital. Coexistimos. Do nosso ataque ao nosso contra-ataque somos feitos de arte. Nossos passes são mágicos, gostam de fazer e se fazer sonhar. Nosso mundo é uma bola. Nosso esquema tático é prático - vencer, vencer, vencer. Vestimos a camisa desse país e jogamos por ele. A peleja é que o time adversário também é forte. E o problema é que esse time adversário, que quer a nossa derrota de qualquer jeito, vem pra cima e ainda se diz chamar Brasil.


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