Daniel Campos

Imprimir Enviar para amigo
11/03/2010 - As mulheres de Atenas, agora são de Esparta

“Mirem-se no exemplo
Daquelas mulheres de Atenas
(...)
Quando fustigadas não choram
Se ajoelham, pedem imploram
Mais duras penas, cadenas (...)”

Chico Buarque que me perdoe, mas as mulheres de Atenas agora são de Esparta.

Anos e anos de luta pela autonomia feminina corroeram a era das mulheres educadas para serem dóceis e reclusas ao mundo doméstico.

Hoje, as mulheres precisam, sobretudo, viver entre a espada e o escudo.

Por detrás da face indefesa, devem ser fortes para suportar o peso das sociedades que ainda as discriminam.

Mirem-se, mulheres, nas competitivas, aguerridas e dominantes espartanas. Mulheres artísticas, atléticas, políticas...

Com as bênçãos de Ares e Afrodite, que as mulheres sejam treinadas para o combate e encorajadas em seu romantismo pós-moderno.

Entre o encanto e o espanto, que sejam firmes para superar as cicatrizes de um sistema enraizado no machismo.

É preciso ser espartana para sobreviver em um planeta que, em pleno século XXI, registra anualmente mais de meio milhão de óbitos devido a complicações durante a gravidez ou no momento do parto.

É preciso ser espartana para mudar um mercado que paga às mulheres, em média, apenas 70% do salário dos homens.

É preciso ser espartana para o aço proteger a carne, que é tão doce quão desejada. Pelo menos uma em cada três mulheres em todo o mundo já sofreu algum tipo de violência.

Mulher, amante e mãe, máquina de sentimento, fábrica de emoções. É preciso ser espartana para não sofrer um infarto por dia.

Que a mulher lute, mas que não perca a dança, o verso e o quê de flor que a movimenta. É isso que faz com que os homens, mesmo longe de casa, matem e morram pensando em suas mulheres.

Que a mulher renda mundos e fundos com sua beleza e transforme a indelicadeza da polis em renda, bordada e tecida a partir do fio de seu destino.

Mulheres espartanas, soberanas da feminicidade – quantas pétalas de sonho e medo cobrem seus corpos?

Ah! Espartana, que os vencidos possam chorar em teus seios, que novas civilizações possam se moldar no âmago de teu ventre e que possa, enfim, colocar o teu ímpeto sempre à frente.

As mulheres atenienses que ficavam dentro de casa se perfumando para seus maridos se transformaram a ponto de hoje darem a palavra final na compra do imóvel, na cor do carro, no destino da viagem, nos relacionamentos...

Bendita a mulher de Esparta que pode nascer e viver em qualquer mulher, pois não há um só país no mundo que não ataque ao menos uma de suas mulheres.


Comentários

11/04/2010, por eliane benites:

Achei máximo o texto era exatamente isto que eu procurava.Sou universitária e estou preparando um seminário sobre educação grega,onde falarei das espartanas quero declamar teu texto.Parabéns sucesso no caminho.


Escreva um comentário

Participe de um diálogo comigo e com outros leitores. Não faça comentários que não tenham relação com este texto ou que contenha conteúdo calunioso, difamatório, injurioso, racista, de incitação à violência ou a qualquer ilegalidade. Eu me resguardo no direito de remover comentários que não respeitem isto.
Agradeço sua participação e colaboração.

voltar