Daniel Campos

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22/10/2008 - Ao seu passo, a poesia vai longe

Ao seu passo, a poesia vai longe. A viagem mais longa parece ser quando ela deixa o interior de mim para ganhar o papel. No entanto, as palavras não param de correr mundo, nem mesmo depois de serem tatuadas em uma folha em branco. Dia desses, elas foram ao Rio de Janeiro, em plena tarde de sol. Pertinho da princesinha do mar Copacabana, do Cristo Redentor de braços abertos sobre a Guanabara, do cruzamento da Tom Jobim com a Vinícius de Moraes, elas foram parar na boca de Leda Nagle. A apresentadora do Sem Censura, exibido pela TVE Brasil, leu, ao vivo, uma crônica que há tempos escrevi sobre o cotidiano que a cerca.

"Maestrina das tardes", que está no livro "Caminhos de Mim", foi lida no finalzinho do programa, como que regendo o entardecer. E eu, há mais de mil quilômetros de distância e sem saber de nada, entardecia em uma outra crônica. Mas na manhã seguinte, soube das peripécias da minha poesia por meio do relato de duas pessoas. Uma delas, minha sogra. A outra, um colega de serviço de minha esposa. Eu, que já assisti a tantos programas e, até mesmo, conheci Leda pessoalmente, fiquei imaginando a cena. Cercada de convidados, a jornalista, que ficou 13 anos à frente das entrevistas do Jornal Hoje, da Rede Globo, e que completou mais de 10 anos na TVE, embarcou no trem das minhas palavras.

Ao final da leitura, ela agradeceu e, se emocionou a ponto da voz embargar e os óculos deixarem o rosto. Os convidados também gostaram, com direito a sorriso de Alcione. Pois é, a "marrom" estava lá. Eu não vi essa emoção no televisor, mas em retinas ou vozes alheias. E isso tem um sabor de curiosidade que não cessa. Ah, essas minhas palavras arteiras continuam aprontando das suas. Outro dia mesmo, recebi um e-mail da família Caymmi me agradecendo pelo carinho demonstrado no texto que escrevi sobre a morte do patriarca, Dorival. É mágico saber que minha poesia está livre, correndo solta por aí, semeando sentimentos pela rosa-dos-ventos. Definitivamente, ao seu passo, a poesia vai longe.


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