Daniel Campos

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07/07/2014 - Andar sozinho

Anos e anos depois, tenho de aprender a andar sozinho. Andar sem ter quem me dê a mão. Andar sem ouvir sim, talvez ou não da boca alheia. Tenho de andar a escutar só, e somente só, meu coração. Tenho de aprender a deixar meus sapatos solitários no fundo do armário sem que possam flertar ou se dar com pares de saltos. Andar de mãos ao vento como que livres ao ar. E a liberdade às vezes machuca por sua força tamanha.

Andar sozinho pisando nos próprios passos. Voar sozinho tentando entender como as nuvens se misturam tão bem. Cantar sozinho sem que ninguém me faça coro, complete meus esquecimentos ou ria do meu desafinamento. Deitar sem precisar dividir espaço ou lençóis, tendo o travesseiro para me calar num boa noite. Alimentar-me sozinho de comida, de sonhos, de expectativas, de amor e de esperanças.

Andar como criança que sempre brincou sozinha. Andar como poeta que nunca deixou de ser sozinho. Andar como quem escreve para dar de comer as suas feras. Suas feras-solidão. Suas feras-espera. Suas feras-ilusão. Andar como sonhador que vive à margem. Andar como semeador da miragem. Andar como invisível pela lotada e transtornada paisagem. Andar fechando os olhos para enxergar quem me acompanha.


Comentários

07/07/2014, por Rafaela Almeida:

Não acredito nisso não Você andando sozinho?!? Sozinho com essa poesia toda Com essa loucura de romantismo que você tem? Que história é essa????? Fiquei curiosa OO texto é super lindo mas fiquei na curiosidade


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