Daniel Campos

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26/09/2012 - Andante

Andante, sigo adiante. Sou andante do tempo e do espaço. Ando pelos traços do dia, pelos braços da noite que me puxam, que me agarram, que me amarram. Sou andante do meu destino. Sou andante das taças de vinho, das roupas de linho, das cordas do pinho. Sou andante em busca do tesouro perdido, do mundo proibido, do amor entre a mocinha e o bandido. Sou andante dos lagos, dos magos, dos afagos.

Sou andante, amante das histórias. Sou andante, retirante das memórias. Ando pelas enseadas da ilusão, pelas montanhas da imaginação, pelos desertos da alucinação. Ando com um, com dois, com doze, com cinquenta, com mil pés. Ando pelos passos da mulher amada. Ando sob os percalços da estrada. Ando descalço pela lua dourada. Ando sem paradeiro feito mãos de um deus violeiro. Ando inteiro e ao mesmo tempo deixando pedaços meus.

Ando, ando, ando e, às vezes, desando. Andante, ando por reinos delirantes, por sonhos infantes, por silêncios gritantes. Ando pelas segundas e terceiras intenções de um tango, pelas provocações de um mambo. Ando sem vontade de chegar, ando sem saudade para voltar. Andante que sou não sei para onde vou. Andante que sou, voo. Andante, hei de ir para onde nunca ninguém voltou. Como andante eu não sou, apenas estou.


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