22/01/2017 - Ame e evolua
O que eu fiz? Onde foi que eu errei? Se eu tivesse feito daquele jeito...
Para de se culpar.
Quantas vezes, paramos nossas vidas para nos culpar por algo que vivemos na atualidade. O fim de um relacionamento, por exemplo. Colocamos a culpa em nossos ombros. Sentimos o peso todo do fracasso sobre nós. Remoemos tudo o que não saiu como gostaríamos. Imaginamos uma série de ocasiões com gestos, palavras e escolhas diferentes. E se eu não tivesse dito aquilo... e se eu não tivesse feito aquilo... e se eu não tivesse escolhido aquela porta... na nossa cabeça, e ao menos nela, criamos o final feliz por meio de caminhos que não trilhamos. Por isso, o sentimento de culpa. A dor é tanta que precisamos de um culpado. Os sentimentos, todos exaltados, com direito a crises de choro e ataques de raiva, exigem alguém para ser torturado. E, na maioria das vezes, esse alguém é você mesmo.
Então, ao contrário de encarar o fim de um relacionamento como o fim de um ciclo, que acabou porque já esgotou suas possibilidades, prendemo-nos aos destroços. E destroços não fazem bem a ninguém. Os cacos não permitem que vivamos o que tínhamos ou imaginávamos ter em sua integralidade. E pior, os cacos, geralmente pontiagudos e cortantes, machucam cada vez que mechemos com eles. O fato é que viver dos restos do passado não traz dignidade a ninguém. E não é justo, com você mesmo, colocar sobre si todo o peso por algo ter acabado. Nada neste mundo é permanente, tudo é transitório e instável. Então, deixe de se condenar por algo que naturalmente não foi criado ou não nasceu para durar para sempre. Somos tão apegados com a ideia de eterno que nos esquecemos que não estamos fadados a uma só experiência, mas a várias experiências, em prol do nosso aprendizado e evolução, que devem ser contínuos. E para viver um novo experimento, pois a vida é feita de experimentos, temos de abrir mão do antigo, daquele que já nos ensinou, daquele que não tem mais nada para nos oferecer. Não podemos dar um passo se não desprendermos nossos pés, se não nos projetarmos no espaço. Seja espaço físico, psicológico, astral.
É como um jogo de videogame, em determinado momento, você precisa pular de fase. Por mais que goste do cenário, dos desafios, da rotina, das personagens de uma determinada fase você só prossegue vivo no jogo, vivo no sentido mais profundo da palavra, se seguir em frente. Num relacionamento, os dois precisam estar em sintonia, se doando um ao outro em matéria de energia, de conhecimento, de tempo, construindo algo em comum, enfim, vibrando na mesma frequência (ou frequências complementares). A partir do momento em que essas frequências ficam diferentes (a ponto de se afastarem uma da outra) não há mais condição de duas pessoas seguirem a mesma estrada sem conflitos, sem brigas, sem desinteresse. Imagine um casal onde os dois dançam valsa. A partir do momento em que um deles passa a dançar rock, não há mais como a dança fluir como antes. E esse salto de vibração é normal, pois as pessoas mudam, evoluem, optam por novos sonhos, projetos, caminhos.
Tudo no mundo é instável. Nós somos seres instáveis. A vida é dinâmica e nós também. É essa capacidade de mudar que nos impulsa a ir adiante. Não podemos ficar estacionados. Alguns relacionamentos duram 50, 60, 70 anos ainda havendo amor verdadeiro, uma parceria pra valer, mas é porque essas pessoas continuam na mesma sintonia. De uma forma ou de outra, continuaram na mesma frequência. Porém, em outros casos, com um ano, cinco anos, quinze anos, a vibração de um deles ou dos dois mesmo muda de um jeito que não há mais como seguir juntos um mesmo caminho. Temos de entender e aceitar que o amor é livre. O amor não amarra ninguém. O amor deve ocorrer em prol do desenvolvimento tanto de quem ama quanto de quem é amado. Portanto, o amor não cria correntes, nós, prisões. O amor é libertador em todos os sentidos. E essa troca de amor é feita enquanto é útil e benéfica para os dois. A partir do instante em que essa completude, esse sentimento de realização recíproca e bem-estar multidimensional se perdem (em partes ou por inteiro) é sinal de que o que um tinha de oferecer de melhor ao outro chegou ao fim, cumpriu seu objetivo, sua missão, sua jornada.
O universo é extremamente preciso. Se estamos todos ligados em uma teia universal, o universo não vai permitir que ficamos perdendo tempo e energia com algo ou alguém que não nos acrescentará mais nada, que não permitirá o nosso avanço, que não nos completará de uma forma ou de outra. Então, novos arranjos são feitos. E esses rearranjos implicam em mudança. E mudanças implicam, muitas vezes, em sair da nossa zona de conforto, e, por consequência, sentir as dores do encontro com o desconhecido e do desapego. Ao mesmo tempo em que você tem que deixar uma situação em que você estava apegada para trás, encara o inédito, o que não conhece, o que não sabe como lidar. E, na maior parte das vezes, nos desgastamos com essa transição. Porém, para o nosso bem, precisamos seguir em frente. Desapegar não significa deixar de amar, mas transcender esse amor. Transcender não é fácil, mas é necessário e realmente positivo para a nossa existência. O final de um ciclo implica no início de outro. Não podemos ficar parados. Só estamos vivos se estivermos em movimento. Somos usinas de energias, milhares de downloads e uploads de sentimentos e pensamentos acontecem em nós por segundo, minuto, hora. Cada um tem o seu ritmo, mas, independentemente de qual seja, jamais podemos deixar de processar essas emoções.
Quanto mais cedo tivermos consciência de que precisamos seguir em frente, de que estamos aqui para evoluir por meio do amor, e das dores que surgem a partir de tudo isso, de que não podemos ficar apegados a uma situação ou a alguém, seja quem for, criando laços nocivos de dependência, mais cedo nos libertaremos do que nos oprime, do que nos sufoca, do que nos atrasa, do que nos faz sofrer, do que nos involui. A involução é incômoda e causa depressão, ansiedade, sofrimento, bloqueios e, até mesmo, a morte física ou em vida. Morremos em vida quando perdemos a capacidade de seguir em frente. E se culpar é uma das formas mais corriqueiras de nos matar aos poucos. Deixemos de julgar e passemos a compreender que os erros fazem parte do nosso aprendizado, que quando não escolhemos estamos fazendo uma escolha e que quando optamos por um caminho estamos sujeitos aos riscos que ele nos oferece. Porém, a vida está no risco. O amor é tão mágico justamente porque é imprevisível. Não há bula, receita, fórmula para o amor ideal. E não existe um amor igual ao outro. Afinal, cada um de nós é único. E essa unicidade pede para que nos arrisquemos em busca daquilo que nos completará, daquilo que nos realizará, daquilo que nos fará melhor do que somos agora. E mesmo que haja uma série de riscos como o de quebrar a cara, machucar e ser machucado, chorar litros, não durar o tempo esperado... o amor sempre valeu, vale e valerá à pena. O ato de amar (e consequentemente ser amado) é inerente à evolução do todo que somos. Por isso, viva o amor em todas as suas formas sem culpas ou reservas.
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