22/09/2008 - Alô, alô, marciano!
Alô, Alô, marciano, aqui quem fala é da Terra! Tô ligando para saber se tem um lugarzinho para gente aí. Falam que vocês são estranhos, com pele verde e antenas no meio da cabeça, mas tenho a certeza de que não vão se negar a receber um terráqueo cansado de guerra. Prometo que não vou levar nenhuma dessas pragas apocalípticas que estão correndo soltas por aqui. Se quiser, desço do meu foguete descalço para não correr o risco de infestar Marte com essa poeira do caos que se espalhou pela crosta terrestre.
Vocês abduziram muita gente que não valeu a pena, mas peço que me dêem uma chance. O que eu quero é só um terreninho pequeno na periferia do planeta vermelho para poder construir uma casinha e viver em paz com minha família. De preferência, se não for muito abuso, perto de um riachinho. Pode estar certo de que a gente não vai incomodar ninguém. Podem continuar com suas missões interplanetárias, com suas experiências científicas, com suas jornadas nas estrelas. Quero apenas uma rede na varanda com vista para Vênus.
Quero deixar na Terra minha carteira de identidade, meu CPF, meus cartões de crédito, o cartão de memória do meu celular e, principalmente, meu título de eleitor, que até hoje nunca serviu para nada. Preciso sair do que sobrou deste planeta o mais rápido possível. Estou com alergia crônica desta civilização que agride e regride na mesma intensidade. Alô, alô, marciano, já arrumei as malas. Dobrei algumas palavras, embalei sentimentos e, logo, logo, vou estar por essas bandas. E não se preocupem com essas coisas de recepção. De tapinhas nas costas já basta os que eu ganhei por aqui.
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