Daniel Campos

Imprimir Enviar para amigo
30/03/2013 - Aleluia?

Hoje é dia de estourar aleluia gritou o menino. E a menina logo quis saber se aleluia era de comer. Se tinha gosto bom. Se estourava na panela feito pipoca ou na boca como chiclete. Aleluia era algo de aplaudir ou de vaiar? Aleluia era coisa de adulto? Aleluia não se aprende na escola. Aleluia era um bicho, um dito, um conflito? Aleluia era uma marca de roupa, a fragrância de um perfume, um programa de televisão?

O menino correu gritando aleluia, aleluia, aleluia e a menina ficou sem resposta, falando sozinha. Aleluia era uma bebida, uma cidade, uma igreja? Aleluia era um jeito de ser? Aleluia beijava bem? Aleluia era um daqueles filmes que ninguém vê? Aleluia era o apelido de um bandido? Aleluia tinha a ver com traição? Estourar aleluia era estourar uma guerra? Aleluia era uma profecia, uma fantasia, uma alegria?

Culpa do menino que deixou um monte de aleluia na cabeça daquela menina. Aleluia era assombração? Aleluia era uma música nova, um ritmo novo, um passo novo? Aleluia era uma epidemia? Aleluia era o título de um livro? Aleluia era de bater, de cuspir, de queimar? Aleluia era uma árvore em extinção? Aleluia era um corte de cabelo? Aleluia era um barco que não voltou? Aleluia era uma válvula do coração?

Foi então que depois de tanto falar, a menina se calou e chorou vendo o menino, junto de tantos outros meninos, dar pauladas e pedradas num boneco – chamado Judas - amarrado num poste. Se aleluia fosse aquilo, ela preferia ter ficado sem saber.


Comentários

Nenhum comentário.


Escreva um comentário

Participe de um diálogo comigo e com outros leitores. Não faça comentários que não tenham relação com este texto ou que contenha conteúdo calunioso, difamatório, injurioso, racista, de incitação à violência ou a qualquer ilegalidade. Eu me resguardo no direito de remover comentários que não respeitem isto.
Agradeço sua participação e colaboração.

voltar