02/09/2014 - Ainda dela
Você me chega do nada puxando conversa, e entre um riso e um olhar impreciso vai logo perguntando que hora é essa. E eu não sei se é dia ou noite, pois desde que ela se foi eu só conto o tempo pelo tempo sem ela. Mas você insiste e me puxa pelo braço, será que não sabe que o coração poeta é feito de barro e não de aço. E barro se desmancha. E barro se esfarela. Ah, tão bela se eu pudesse moldaria o meu amor ao seu corpo de esplendor, mas eu sou dela, mas eu ainda sou dela, nem que isso só for verdade no meu sonhador. Sinto lhe dizer, mas antes de bem me conhecer precisa me esquecer porque não hei de querer fazer ninguém sofrer como sofro por ela. Não se prenda a mim, vá viver a sua vida. Por que se apaixonar por alguém que não consegue se convencer de uma despedida? Botou-me pra fora, mas eu não fui, não, não fui embora. Não chora pra não borrar essa pele de cetim. Você pode e deve ser feliz sem mim como o jardineiro é infeliz sem seu jardim. Não crie raízes no meu peito. Não brote em mim nem por despeito. Tenha respeito, sinta saudade, mas cultive seu amor-perfeito distante da minha tempestade. Se eu pudesse deixar tudo para trás eu deixaria, mas para deixá-la eu preciso me deixar, e sem mim eu não existiria, como pode um poeta viver sem sua poesia. E hoje ela ainda é meu verso, meu reverso e meu controverso. Quem sabe um dia se ainda me restar fantasia eu lhe faço essa mulher, a minha mulher, que hoje tanto você queria.
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