Daniel Campos

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01/03/2013 - Águas de Jobim

Espero março com ansiedade, só para escutar Jobim regendo as águas. Águas vindas dos corpos dos anjos, das nuvens mais escuras, das minas à flor da terra, das bailarinas escafandristas, dos lençóis freáticos de seda ou cetim, das frutas maduras, dos telhados coloniais, das bocas que dão água na boca, das brisas perfumadas, das lembranças dos guarda-chuvas, dos veios dos poetas, das luas serenadas, dos cálices doces, dos prazeres incontidos, dos brejos das almas, dos adeuses em pranto...

Que Tom Jobim harmonize as águas de março com seus paus, pedras e fins de caminho, seus restos de toco, seus cacos de vidro, seus laços e anzóis. Que o maestro soberano dê ritmo as águas das perobas do campo, da madeira de vento, dos mistérios profundos, do Matita Pereira. Que Antônio Brasileiro seja a música que chove no vento ventando e no fim da ladeira. Que a ave no céu e a ave no chão se encontrem pelas águas de março num ritmo puramente jobiniano.

Pelas mãos de Tom, que as águas de março fechem o verão atiçando promessas de vida nos corações. Corações de peixe. Corações de tijolos chegando. Corações de lenha. Corações de cana. Coração de estilhaços da estrada. Corações na cama. Coração de carro enguiçado. Corações de lama. Corações no fundo do poço. Corações com pregos e estrepes. Corações um pouco sozinho. Corações com febre terça. Corações em marcha estradeira. Corações molhados, encharcados, inundados de Jobim.


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