18/12/2009 - Aflija-me
Se esta noite o tempo virar, acuda-me. Não me deixe sair sozinho da cidade, de casa, da cama, do seu lado... Pode amanhecer a qualquer hora e há de se ter medo do dia não nos ver juntos. Vamos nos ater às mantas. Não deixe de acender uma vela no pires da santa. Examine a planta da casa e descubra se há uma saída secreta. Enquanto isso, faça-me aquela massagem predileta com óleo de mastruz. Fale, fale, fale só para eu lhe calar num beijo em contra-luz.
Se esta noite o tempo virar, sacuda-me. Não me deixe pegar no sono, coloque uma dose de rumba na penumbra do quarto. Que horas é o parto? Eu já ando farto de tanta espera. Meu corpo queima e teima de amor. Não me procure. Segure-me. E não se esqueça de espalhar armadilhas caseiras, como linhas de tricô e agogô. É bom se certificar de que eu não vou embora. Vamos colorir os lençóis ficando a sós.
Se esta noite o tempo virar, ajuda-me. É fundamental que se acompanhe o movimento das estrelas, bem como o sentimento da lua das centelhas e do vermute. Não vá à janela, tampouco a escute. As coisas que acontecem lá fora não importam mais, ao menos agora. Aliás, a jura é fingida e a vida, dolorida. Portanto, querida, enlace seus braços aos meus antepassos. Não me deixe ir que eu prometo não lhe deixar sumir.
Sumir das minhas mãos.
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