Daniel Campos

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17/01/2014 - Aceleramento

140... 160... 180... 194 quilômetros por hora... Lá fora, tudo passa por mim rapidamente. Árvores diferentes se transformam em um borrão verde. As nuvens vão se juntando querendo me falar algo. Ayrton Senna, que andava a mais de 300, tinha razão ao dizer que a velocidade o levava para perto de deus. Sim, o piloto, imerso em voltas e voltas mais rápidas, conversava com o criador. Quanto mais a velocidade cresce no velocímetro mais e mais fico entre dois planos. A concentração faz com que tudo ganhe lucidez enquanto erro algum é permitido.

As canções do rádio se perdem no silêncio. A mente tem sua própria trilha sonora. Os pensamentos vão falando cada vez mais alto. O carro parece andar a milímetros do chão, sem tocar o asfalto. Uma sensação de ganhar asas. A pulsação aumenta sendo sentida em vários lugares do corpo até que, num certo momento, ela parecesse cessar. O corpo entra numa zona de estase e ganha uma paz interior indescritível. O organismo humano sofre uma espécie de apagão enquanto sentimentos que valem à pena ganham holofotes especiais e exclusivos.

Não há espaço para choros, soluços, gritos... O corpo segue como que em transe, dopado pela adrenalina. A velocidade limpa, oxigena, redimensiona. O sonho, de uma forma ou de outra, torna-se possível e se realiza. Caminhos são apontados, ideias surgem como milagres. O tempo perde o sentido e chega a correr ao contrário. Acelerar ou frear? O destino na ponta dos pés. A vida aflora por todos os poros. O medo, entregue à velocidade, desaparece. A estrada real se desmaterializa enquanto avanço por um mundo encantado, em sintonia com o que sou.


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