16/11/2013 - Aberta a temporada do esquecer
Esqueça tudo o que traz a dor, o desassossego, o risco. Esqueça o que não pode nem deve ser lembrado. Esqueça o que não foi e não era para ter sido. Esqueça o que, de fato e para todos os efeitos, não aconteceu. Esqueça o triste e suas adjacências. Esqueça o verbo que não conseguiu ser conjugado. Esqueça o sentimento mais doído. Esqueça o mundo imaginário e todas suas consequências não menos imaginárias.
Esqueça o que, mesmo sem querer, faz sofrer. Esqueça o dia perdido. Esqueça o tempo desencontrado. Esqueça a brincadeira feita pelo destino nas tramas de nossas vidas. Esqueça o desejo pela impossibilidade. Esqueça a vontade de querer estar junto do que nasceu para ser separado. Esqueça o amanhã que nunca chegará. Esqueça os lugares comuns, que mesmo comuns, são de um só por vez.
Esqueça as estrelas pálidas de medo e de choro. Esqueça o que queima por dentro feito vela solitária. Esqueça o inatingível, o inalcançável, o improvável. Esqueça tudo que há de ficção, de abstrato, de fantasia. Esqueça a promessa que nunca se cumpre. Esqueça quem ainda não veio. Esqueça o final feliz que não passa de fábula. Esqueça a ilusão que nos fez vivos até então. E se puder, esqueça tudo o que escrevi.
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