20/02/2010 - Abacateiros
Depois de uma estrada alongada, entre o horizonte e o nada, desfralda-se um pomar de abacates. São milhares de árvores tão gigantes quão os titãs temidos pelos gregos. Além da altura que causa vertigem, suas copas são rodadas como os vestidos de antigamente. Tudo é verde. Mas não existe um só tom, há diversas tonalidades verdejando por aquela terra que por pecado de Deus é vermelha como os lábios dos anjos caídos. Ah! Quanto prazer posto no beijo dos pés com aquela terra.
Ali tudo é infinito. Não há som senão o dos abacateiros. E como eles contam histórias. O vento roça suas galhas e lendas vão caindo ao chão como pássaros sem ninho. As árvores dão idéia de proteção. Uma verdadeira fortaleza viva. Um labirinto onde habitam faunos e outras criaturas mágicas. Há uma leveza ali difícil de explicar. Às vezes se tem a impressão de que há uma crônica falta de gravidade. Há uma tendência ao vôo. Vôo livro.
Vontade de dormir àquela sombra. Vontade de se pendurar em um galho. Vontade de construir uma cabana ali e viver como naufrago. Durante aquele oceano esverdeado, vontades e mais vontades vão se sobrepondo. E como são doces os frutos que tingem de verde a língua. Nem mesmo o tempo, este senhor impiedoso, ousa entrar nos domínios daquele pomar. Ali, paralelos e dimensões se cruzam produzindo consecutivos nascimentos. Até mesmo o sol, quando passa lá no alto, de inveja nasce um pouco verde.
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