16/10/2008 - A totalidade caiu em desuso
De convulsões econômicas a uma nova mutação de répteis surgida em um povoado perdido na Oceania, eles dominam como ninguém. Ou, ao menos, dizem que entendem. Querem ser cientistas, filósofos, presidentes, reitores e até técnicos de futebol. E nem é mais preciso ter uma longa barba grande para fazer parte do clube de entendidos. O que era uma ordem de anciões virou uma legião de palpiteiros sem idade, sexo e endereço. Palpite para lá, palpite para cá, e o tico-tico está comendo todo o meu fubá.
As instituições de ensino particulares apimentam essa indústria de palpitaria. Há mestres em literatura das índias tatuatus da pena amarela entre 26 e 22 anos, nascidas no ciclo da lua cheia. Há doutores em canções compostas em violão feito com a legítima madeira de um morro entre os meridianos 13 e 14. Há especialistas em física-química-geográfica das partículas subatômicas que formam o superego dos sabichões. E título para lá, é título para cá, e o tico-tico está comendo todo o meu fubá.
O pior de tudo é que essas criaturas se acham superiores e, ao menor sinal de ameaça, esfregam esses diplomas fracionados em nossas caras. Ao estouro da primeira bomba nuclear, o mundo se fragmentou e o conhecimento dos sabichões foi pelo mesmo caminho. O "know-how" foi reduzido a um grão de mostarda. São tantas sementes, mas a semeadura de uma nova cultura nunca chega. Do amor ao ódio, a totalidade caiu em desuso. É semente para lá, é semente para cá, e o tico-tico está comendo todo o meu fubá.
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