Daniel Campos

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08/09/2011 - A mulher, o cacto e o mar

Entre o mar e o deserto, um sorriso róseo que, por si só, se destaca naquele marrom-acinzentado tornando-se, assim que surge, uma caça em potencial. Mas como surge? O sol grita e a mulher nasce daqueles cactos corpulentos. Nasce ferida pelos espinhos, manchada pelo sofrimento de um amor mexicano. Seus olhos, ora áridos ora marejados, têm bordas infinitas que desobedecem as regras da perspectiva.

Sai pelo deserto afora e dança, entre rochas e areia, os passos de uma seresta de mariachis. Mulher de um calor abrasador, cujo hálito é refrescante como os ventos do Pacífico. Pelos seus pensamentos rodopiam tormentas tropicais e casamentos zodiacais. Não há como acertar a previsão climática, sentimental, astral dessa mulher que muda corpo e espírito com a mesma freqüência e facilidade de grãos de areia ao vento.

O perfume desértico, fragrância solidão, brota num verde úmido pelas entranhas dessa mulher. Inebriados, apaixonados mergulham em seu oceano de sal, descobrindo desejos adocicados. Palavras de tequila se misturando a siesta dos silêncios. A meio céu, a lua derrete como calda de caramelo sobre a noite abafada dessa mulher que nos convida a morrer e renascer em seus espinhos.


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