Daniel Campos

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02/03/2010 - A morte de dois guardiões

Dois importantes guardiões foram chamados a deixar seus postos e, por conseqüência, esta terra sem memória. Walter Alfaiate e José Mindlin, guardiões do samba e dos livros, respectivamente, partiram deixando suas obras em vida. Para muitos, o primeiro era só um sambista. Para muitos outros, o segundo só um bibliófilo. Mas ambos iam além de rótulos ou aparências. Ambos eram patrimônios culturais de um país ainda não descoberto.

Um imenso abismo social separou Walter de José, dois homens travando, por anos e anos, a mesma luta: a sobrevivência da arte. Literatura e música ficam mais pobres com a falta desses dois estandartes de uma época. Mindlin doou sua imensa biblioteca, com mais de 40 mil volumes, a uma das mais importantes universidades do país. Já Alfaiate, que precisou exerceu a profissão que lhe deu nome desde os 13 anos para sobreviver, deixou suas canções às gargantas de Paulinho da Viola e outros bambas.

Embora José Mindlin fosse empresário, advogado, jornalista e imortal e Walter Alfaiate um sambista da Portela que precisou da ajuda de amigos como Monarco e Alcione para custear seu tratamento os dois cumpriram com a mesma dignidade o papel que lhes foi conferido: prolongar a vida de um tempo. Quantos originais não ficaram sob os cuidados de José? Quantas histórias não foram confiadas a Walter?

Cada qual a sua maneira, esses dois fizeram jus ao posto de guardião. Postos que ficam vagos até segunda ordem.


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