Daniel Campos

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27/04/2012 - A moça que perdeu as asas

Os olhos da moça se aninharam em pranto. O dia sequer havia amanhecido quando o espanto calou qualquer esboço de canto. Gaiolas, alpiste, poleiros e penas coloridas espalhadas pelo chão. Aquelas criaturas pequenas em tamanho e gigantes na magia que enchiam aquela moça de sonhos e desejos alados acabaram nas garras de um desses gatos da noite que não tem nome completo ou endereço fixo.

Não eram pássaros quaisquer. Tratava-se de um casal de agapornis, as aves do amor. Pássaros fiéis, amantes leais, que viviam eternamente apaixonados na fantasia do dia a dia. A moça que se imaginava com asas ficou sem céu. A moça que tinha a cabeça nas nuvens despencou de um arranha-céu. A moça que gostava de brincar de equilibrista, girava sem sair do lugar feito carrossel.

Revirando o quarto do casal, achou, no fundo do ninho de madeira trincado, ao lado de dois ovinhos, um de seus agapornis. O menino sem sua menina. Tinha gritado, lutado, resistido em vão. Havia perdido. A moça ficou com seu pierrot, que ficou sem sua colombina. Frio, o sol garoava fino. Qualquer navio de papel jornal se transformava num transatlântico de saudade.

A moça segurou aquele pássaro ferido como se tivesse em suas mãos um coração de louça partido pela metade.


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