Daniel Campos

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19/07/2013 - A menina e a santa

Uma menina, do alto de seus quatro anos de idade, desgruda da mãe, que está de joelhos num banco de igreja, e se aproxima da imagem de Nossa Senhora e começa a conversar com a santa:

Santa, o que faz com tantos pedidos depositados aos teus pés? Santa, para onde leva todas essas flores que ganhou? Santa, não tem medo da chama das velas que cercam sua imagem? Santa, para que tantos terços em volta das tuas mãos? Santa, como faz para memorizar tantas preces? Santa, não sente mede quando lhe levam em um andor? Santa, o que acha de tantas meninas batizadas com o seu nome?

Santa, você tem tantos filhos assim mesmo como dizem? Santa, essa coroa não é muito pesada? Santa, você não tem calor usando todo esse manto? Santa, onde você mora? Santa, porque esse menino que carrega nos braços não cresce nunca? Santa, você gosta dessas pessoas cantando seu nome ou se ente um pouco envergonhada com isso tudo? Santa, você já brincou de boneca?

Santa, você não cansa de ficar o tempo todo em pé? Santa, você não tem sapato? Santa, onde estão os teus anjos? Santa, você já chorou por ficar no escuro? Santa, você já teve medo do bicho-papão? Santa, você já se lambuzou de brigadeiro? Santa, você faz questão dessa gente ficar ajoelhada? Santa, você já teve muito medo de ficar sozinha? Santa, você reza pra quem?

A mãe da menina, escutando o fim daquela prosa, resolveu dar bronca na menina dizendo que aquilo não era coisa de dizer para uma santa perdendo assim a oportunidade de ter aprendido, com a filha, a rezar.


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