Daniel Campos

Imprimir Enviar para amigo
20/09/2012 - A magia da ventania

A ventania provocou o sabiá, que desandou a cantar, a cantar, a cantar aquele velho refrão como que numa sinfonia já nas primeiras horas do clarão do dia. O ventou levantou o pó e, deixou a galha sem frutos ou flores ainda mais só e deu um nó nas previsões do tempo. O vendaval espalhou folhas de árvore e de papel pelo quintal, misturando seiva com Neruda, nervuras com Drummond. O som do vento provocou uma chuva de sentimento pelas camas, um boom por entre camisolas e pijamas.

A ventania fez a alegria do pardal que de pulo em pulo foi apresentando seu musical. O vento desalinhou os cabelos, desequilibrou os botões de rosa, calou até a rotina mais sestrosa. O vendaval limpou os caminhos, suscitou o desejo de bons vinhos, desafinou o lá menor dos pinhos. O vento foi como um unguento para as almas mais doloridas. Ventou alívio e arrefecimento mesmo que deixasse nuvens de pernas para o ar. A ventania nos lembrou de que tudo pode mudar a partir de um sopro.

Um sopro de criação. Um sopro de sim, um sopro de não e até um sopro de talvez. Um sopro de ilusão, de imaginação, de alucinação. O vento, a ventania e o vendaval nos beijando, nos estapeando e nos amando pelo ar. O tempo ventando, soprando transformação. A partir do vento a certeza de que nada será igual. Até o canto dos pássaros muda com a ventania. Pura magia. É como se alguém quisesse espalhar algum tipo de encantamento por meio do vento. Para o mal ou para o bem, ninguém fica imune a essa encantaria.


Comentários

20/09/2012, por etel:

voce me fez lembrar do sabiá,fiqueicom saudades,beijos


Escreva um comentário

Participe de um diálogo comigo e com outros leitores. Não faça comentários que não tenham relação com este texto ou que contenha conteúdo calunioso, difamatório, injurioso, racista, de incitação à violência ou a qualquer ilegalidade. Eu me resguardo no direito de remover comentários que não respeitem isto.
Agradeço sua participação e colaboração.

voltar