14/08/2013 - A lança do tempo
A cada dia o tempo enterra um pouco mais de sua lança em meu peito. A vida, de uma forma ou de outra, se esvai mais e mais a cada dia. A cada dia há mais motivos para se arrepender ou para comemorar, dependendo do ponto de vista. O fato é que pouco a pouco essa lança vai perfurando nosso corpo e nossa alma, fazendo com a cada dia sonhos, vontades, projetos morram a cada dia, por inteiro ou parcialmente. Alguns são substituídos, outros ficam literalmente pelo caminho, que vai ficando mais íngreme, distante e tortuoso dia após dia.
A cada dia, essa lança enferruja nossos sentimentos, sangra nosso orgulho, fere nossas pretensões. Essa lança desencoraja, paralisa, prende, dói quando estamos apegados ao tempo, com receio do que vem depois ou deixando de viver o agora, ou ainda remoendo o ontem, o anteontem, o trasanteontem... A cada dia temos a tarefa de agradecer, de saudar, de aproveitar, de invocar, de transformar o tempo nosso de cada dia. É nosso dever agarrar esse tempo que nos é ofertado com unhas e dentes e tirar dele tudo o que pode e também o que não pode ser tirado.
Nada do que façamos irá impedir que a lança do senhor do tempo continue atravessando nosso peito mais e mais a cada dia. No entanto, isso não pode ser motivo de sofrimento, de desencorajamento, de lamento. É necessário superar essa morte diária, renascendo de diferentes formas e maneiras. Não permita que o tempo lhe escravize. Tenha o tempo como amante, como parceiro, como mestre. O tempo é inexorável, mas é também flexível, dado a alongamentos, flexões e manipulações. Entregue-se ao tempo até que sua lança lhe tire a última gota de existência.
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