Daniel Campos

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18/04/2010 - A fada Eduarda na floresta dos sapos

Bom domingo! Hoje é o dia nacional do livro infantil. Quantos de nós já nos encantamos diante desses livros quando pequenos? Como um livro seria demais para este espaço, ofereço a você uma história infantil. Leia e a faça chegar às crianças. Não só àquelas que o rodeiam como as que vivem dentro de você.

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A Fada Dourada na floresta dos sapos


Era uma vez, uma floresta triste e sombria. As árvores, além de não terem folhas, tinham os troncos cobertos por rugas e verrugas. Dizem que o lugar foi amaldiçoado por uma bruxa que fez dali seu reino e, desde então, nunca mais nasceu uma flor sequer por ali. Bicho? Só corvos, morcegos, cobras, ratos, moscas, baratas e, claro, sapos. Nem mesmo o sol se atrevia a brilhar naquele lugar. Nuvens escuras cobriam o céu o tempo todo com explosões de raios e gritos de trovões. Mas ao contrário de água, o que caia das nuvens eram sapos.

A bruxa Rosaureta, que tinha um cabelo ouriçado e verde, adorava sapos. Sapos pretos, sapos verdes, sapos amarelos, sapos vermelhos, sapos azuis. Sapos de todas as cores e tamanhos. Desde que a bruxa má chegou a essas terras, há mais de cem anos, nunca mais se viu esquilos, gatos, coelhos, araras... os duendes, as fadas, as crianças, enfim, todas as criaturas boas e encantadas desapareceram. Entre suas maldades, a bruxa misturou sapos e morcegos para criar sapoegos voadores. Inspirada nos dinossauros, ela fez um sapo gigantesco, o sapo-rex. Aproveitou o veneno de escorpiões e aranhas para ter sapos cada vez mais venenosos. De feitiço em feitiço, formou um exército monstruoso de sapos.

Ela andava por aquela mata montada em um sapão, levando um chapéu preto e largo na cabeça repleto de mini-sapos. Seu castelo era uma montanha gosmenta em formato de sapo. Ao longo do tempo uma leva de cavaleiros, gnomos, elfos e feiticeiras a enfrentaram. Mas todos foram derrotados e castigados. Castigos de arrepiar. Afinal, ela aprisionava todo mundo na forma de sapo. Quanto mais linda a fada, mais feio o sapo em que ela se transformava.

Na tentativa de derrotar a bruxa, uma fada rainha chamada Alda, montada em um pássaro de fogo, voou de um planeta distante escoltada por fadas borboletas. Percebendo sua presença, Rosaureta pegou uma carruagem puxada por sapos voadores e partiu para o ataque. Depois de uma longa batalha no céu, a rainha Alda e as meninas borboletas viraram sapos acinzentados e cascudos. O que ninguém viu é que, antes de perder sua linda voz e começar a coaxar, a fada arremessou uma semente dourada como ouro em pó por entre as nuvens. A semente, pequena e indefesa, foi carregada pelo vento forte até chegar ao lado mais tenebroso do pântano.

E aquela não era uma semente qualquer. Era uma semente que brilhava. Brilhava muito, como uma espécie de estrela. Os sapos tentaram destruí-la, mas não conseguiram. Jogaram-na então no rio de lama que corta a floresta. Um rio fedorento e sujo. E ali a semente foi tragada pela imundice. Perdeu o brilho. Assim, despercebida, permaneceu enterrada no pântano por muitos e muitos anos. E quando todos acreditavam no fim da semente, do dia para a noite, dela nasceu um cogumelo. Um cogumelo pintado de vermelho com bolinhas brancas. Há muitos e muitos anos não nascia nada daquele tipo naquele lugar feioso e tristonho. Para se ter ideia da feiura daquilo tudo, nos jardins do castelo da bruxa Rosaureta só nasciam espinhos.

Quanto tomou conhecimento do acontecido, a bruxa ficou com muita raiva. Procurou, procurou, procurou, porém não conseguiu encontrar o tal cogumelo. Pensando que algum dos sapos já teria se encarregado de comer aquela coisa cheia de vida, gargalhou e voltou para seu castelo para degustar um ensopado de olho de sapo. O que bruxa Rosaureta não sabia é que algumas horas antes, do cogumelo havia nascido uma menina, ou melhor, uma fada. Uma fada bebê, dourada, com asas furta-cores. Uma fada pequenina e esperta que, ouvindo o barulho provocado pelo caminhar do sapo gigante, que estremecia toda a floresta, tratou logo de engatinhar para se esconder no oco de uma árvore.

Em pouco tempo, a árvore ganhou folhas verdes e ficou vistosa como só. Nasceram pássaros e esquilos da árvore. Aonde a menina pisava ou tocava um milagre acontecia. Espinhos viravam rosas, o pântano virava grama e os bichos horríveis que caminhavam por ali se tornavam borboletas, cisnes, joaninhas, caracóis, papagaios. Assim, ela começou a voar pela floresta devolvendo a vida ao lugar. Ao invés de chover sapos chovia guloseimas. A bruxa que enxergava tudo o que acontecia em seu reino através do olho mágico de um sapo-boi, endoidou. Recrutou seu exército e o mandou capturar a menina. Assim, milhares de sapos saíram marchando, levando lanças e arpões para acabar com a festa da fadinha dourada.

Mas os planos da bruxa não deram certo. Aquela fadinha sobrevoou aqueles sapos todos derramando um pozinho de suas asas. Esse pó transformou aqueles sapos da cara ruim em vagalumes, cachorros, pôneis, garças, duendes, sereias, meninos e meninas... E todos, livres daquela bruxaria, puderam brincar por entre flores e cachoeiras. A bruxa Rosaureta esperneou e não pensou duas vezes antes de abrir os porões de seu castelo e soltar as mais terríveis assombrações. Experiências e feitiços que não deram certo: sapos deformados, sapos selvagens, sapos com oito patas, cinco olhos, três cabeças, chifres, línguas de fogo...

A bruxa estava confiante de que magia alguma poderia embelezar esses monstros. Contudo, sob os cuidados da fadinha Dourada essas criaturas horripilantes viraram árvores frondosas, flores cheirosas, animais bonitos e mansinhos. Rosaureta decidiu capturar ela mesmo a menina. Pegou a lâmina mais afiada que encontrou, montou num sapo voador e foi em busca da menina. Ao sair do castelo tomou um susto, pois o sol começava a aparecer por entre as nuvens e um clima de alegria já se espalhava em canções e danças. Quanto mais ela se deparava com essas demonstrações de felicidade e afeto mais ela tinha vontade de acabar com a fadinha.

Quando encontrou Dourada, Rosaureta pode testemunhar seus últimos guerreiros sapos sendo transformados em dóceis ovelhinhas, cobertas de algodão-doce. A essa altura, a menina já estava rodeada de criaturas adoráveis e mágicas. Não seria fácil a bruxa enfrentar todos de uma vez. Mas se acabasse com a fadinha poderia ter todos aos seus pés. Então, falou algumas palavras na língua dos sapos, que só ela entendia, e imediatamente o sapo gigante abriu a boca e lançou sua língua venenosa em direção à fadinha. Dourada teve seu corpo todo enrolado por aquela língua suja e fedida. Não pode mexer as asas nem as mãos nem a boca. Para finalizar o golpe, o sapão foi puxando a menina até conseguir engoli-la. Era o fim da ofensiva da beleza, da bondade e da magia do bem.

Fadas, duendes, botos, sereias, elfos e gnomos começaram a chorar. Sabiam que, mais cedo ou mais tarde, todos eles seriam transformados em sapos novamente. Foi então que o sapo gigante, que era verde escuro, começou a brilhar. Brilhar muito forte em razão de uma luz vindo de dentro dele. Em seguida, começou a pular e, pular e pular até derrubar a bruxa. No quinto pulo o sapo já caiu no chão cuspindo Dourada. O sapão virou um macaquinho amarelo. Desesperada, Rosaureta partiu para cima da menina com suas unhas compridas, tortas e encardidas. Mas ao encostar suas mãos nela as duas foram tomadas por um grande clarão que ofuscou a vista de todos ali presentes. Seria o fim de Dourada?

Quando a luz baixou, segundos depois, a floresta comemorou. A fadinha estava bem, com um sorriso nos lábios, e a bruxa Rosaureta havia se transformado em um lindo sapo cor-de-rosa bem vívido, um pink radiante. Foi o único sapo que restou naquele lugar, já que um a um todos os outros puderam voltar à forma antiga. Foi assim que Dourada libertou a floresta encantada das mãos da bruxa má que agora mora numa lagoa de águas perfumadas e floridas. Graças a essa fadinha, todos puderam viver felizes para sempre, brincando entre si e encantado uns aos outros pela floresta iluminada, ensolarada, dourada, onde as árvores brilhavam como estrelas e os vaga-lumes brotavam de todo lugar...


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