20/04/2012 - A dor de existir
Não há dor pior do que a lucidez. Estar lúcido é estar vulnerável a um sem número de sofrimentos. Melhor seria viver em uma realidade particular, onde sonhos pudessem ser tão concretos quão as pedras deste mundo. Se nós estamos conscientes, toda ilusão, por mais densa e deslumbrante, mais cedo ou mais tarde se desfaz. É triste saber que nenhum sonho é para sempre, que as fantasias têm as pernas tão curtas quão as da mentira, que os contos de fada não existem para além dos livros e que nossos heróis já morreram.
As calamidades cotidianas, as tragédias naturais, as doenças, as perdas só surtem esse efeito gigantesco em nossas vidas se estamos em um determinado estágio de consciência. Ah se pudéssemos ter um botãozinho para nos desligar temporariamente, algumas horas por dia ao menos, deste estado de lucidez que nos deixa em carne viva. Só assim, teríamos condições de viver, de sentir, de amar loucamente. Só assim, o tempo e o espaço deixariam de nos impor uma vida limitada e angustiante. Só assim, caminharíamos para outro fim.
Os deuses nos pouparam de saber a data precisa em que vamos morrer. No entanto, deixaram-nos o fantasma da dúvida: podemos morrer a qualquer momento. O medo não de morrer, mas de não viver tudo o que temos para viver está sempre presente. A lucidez é a nossa camisa de força. É o que nos prende, o que nos faz abortar uma série de projetos e aventuras, o que nos faz bem menores do que poderíamos ser.
A lucidez é certeza da dor de existir.
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