25/02/2016 - A árvore e o vento
Impossível te esquecer, te apagar, não lembrar, não viver você. Está em meus pensamentos, pelos meus neurônios, indo pelos meus axônios, habitando as minhas partes e impregnando o meu todo. Seja como garotinha ou mulher, protagonista ou coadjuvante, marcante, você está lá no meio, bem no meio do meio, da minha cabeça. Está deslumbrante, estonteante, vibrante. Você me leva à frente e quando eu vou carrego você como o noivo carrega a sua noiva, como menino leva o coração da sua menina, como homem guarda as lembranças da sua mulher. Tudo o que eu faço tem uma digital sua. Tenho suas marcas em meu corpo, em minha alma, em minhas vidas. No que eu como, sonho, caminho, canto, falo, beijo, abraço, transo, voo, planto, leio, escrevo, toco, invoco, provoco está você. Em cada mordida, em cada arrepio, em cada música, em cada fantasia, em cada passo lá está você. Pode não acreditar, mas vive em mim de um jeito único e sagrado, sacramentado a cada fração de segundo. O meu mundo roda em torno do seu eixo, e se anda por tudo o que sou é porque eu deixo. Eu amo e não me esqueço. O perfume que eu uso, a roupa que eu visto, o retrato que eu vejo no espelho me trazem você. No meu querer, no meu ser, no meu fazer só dá você. Mesmo ausente fisicamente, você é plena e presente na minha história contínua. Meu romance, meu conto-de-fada, meu era uma vez que continua sendo mais e mais e mais uma vez. Tudo o que vivemos e o que não vivemos se casam em tantas variações e possibilidades. E se... e se.... e se... Tudo o que não aconteceu, acontece de um jeito ou de outro cá dentro. Há uma explosão de sentimento. E seu olhar, no fim do túnel, me traz o alento. Se eu ainda voo é porque conto com suas asas. Se eu ainda falo em casamento é porque tenho você unida em mim. Se eu ainda componho é porque proponho doses da sua poesia ao meu dia. Mulher. Menina. Anja. Colombina. Garota. Noiva. Musa. Amada. Estrada. Estrela. Princesa. Delicadeza. Tantas faces, qualidades e incertezas em uma mesma beleza. Face a face, você me olha e me tem. Corpo a corpo, o que somos um para o outro não se contém. E nessa mistura de saudades e expectativas, desejos e realidades, tenho você a todo o tempo, em qualquer lugar, no meu universo particular. Sou árvore verde e você o vento azul que chega e mata a minha sede, balança minhas folhas, entorta os meus galhos, dança pela minha copa, escorre pelo meu tronco, entra pelo meu oco, assovia e canta pelo meu interior. Chega ao meu coração e bebe da minha seiva fazendo-me florir e frutificar só para você, ventania, levar minhas flores e sabores que nunca deixei de te ofertar. Impossível te esquecer quando minhas raízes te buscam mundo adentro, quando minhas folhas escritas partem de mim tentando te encontrar. Impossível te esquecer quando estamos unidos pelos mistérios do verbo amar. E nessa verborragia toda que nasça e renasça a magia de sermos juntos numa espécie de pomar do paraíso, num quê de se apaixonar nunca perdido. Com ou sem juízo, o amor entre a árvore, enraizada na ilusão, e do vento, que varre a solidão, nunca estará esquecido.
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