Daniel Campos

Silva, o sobrenome do Brasil


2003 - Livro-reportagem

Editora Auxiliadora

Resumo

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Silva - o sobrenome do brasil (apresentação)

O livro-reportagem "Silva - o sobrenome do Brasil" nasceu do desejo de se conhecer um país. Inspirados por Noel Rosa que cantou que não se aprende samba no colégio, deixamos os bancos da escola e fomos em busca desse país imaginado. Queríamos descobrir a importância do sobrenome Silva para o Brasil e contribuir para esclarecer sobre a forte presença dele em nossa terra. A motivação deveu-se ao fato de que consideramos Silva como sendo um traço marcante da identidade brasileira, sobretudo por ser o sobrenome mais comum no país. Embora nem mesmo as pessoas que o carregam saibam sobre a origem dele.

Tornar conhecida a sua origem e mostrar para pesquisadores, estudantes, pessoas de sobrenome Silva e curiosos em geral, a importância que ele assume no Brasil foi o que nos levou à grande viagem de conhecimento do país por meio de um sobrenome. Esse fascinante desafio tornou-se ainda mais convincente a partir da eleição do presidente Lula e do vice José Alencar, fato que fez chegar ao primeiro escalão do governo mais quatro pessoas com o mesmo sobrenome do presidente e do vice, o Silva, nosso objeto de pesquisa.

Qual a origem, no mundo e no Brasil, do traço comum, o Silva, a pessoas como José Graziano, Benedita, Maria, Zé Dirceu, José Alencar e Lula? Para muitos editorialistas a eleição do presidente Lula e a composição do governo representou a chegada do sobrenome Silva ao poder. É isso mesmo? Quem eram os Silva que governaram o Brasil em outras ocasiões? Por que o sobrenome continua sendo considerado sem importância? Millor Fernandes, por exemplo, definiu Silva como sendo o anonimato assinado. Tem razão? Responder a essa e outras questões (temas-problemas) que surgiram ao longo do processo de pesquisa serviu de estímulo para o desafio assumido.

Nosso período de pesquisa compreendeu o sentimento de esperança que nascia daqueles Silva que chegaram ao poder com a posse do dia 1º de janeiro de 2003. O cineasta Cacá Diegues afirmaria que o Brasil está entre o paraíso e o inferno. Naquele momento, o Brasil era construído pela esperança, desejo de paraíso.

Lançamo-nos ao encontro dessa identidade. Quando vimos, estávamos em uma BR, cercados por barrancos e mata. A dois quilômetros dali, Juquitiba, município do interior de São Paulo. O motorista do ônibus não conhecia o lugar que procurávamos e nos deixou ali mesmo, na estrada. Entre um sol escaldante e o movimento frenético de veículos, encontramos a cidade perto do horário de almoço. Dia 19 de junho, feriado de Corpus Christi, e parte da população se concentrava em uma padaria. Após superar ladeiras íngremes, encontramos Pedro Ângelo, o jovem professor que se atirou em cima do Rolls-Royce que levava Lula no dia da posse em busca de um abraço. Naquela entrevista, tivemos a certeza de que, de fato, Silva é um dos traços fortes desta Nação. Uma Nação feita de vontades e emoção.

Nove dias depois, 27 de junho, estávamos em Brasília. A escolha do lugar onde concentraríamos a pesquisa de campo foi precisa para o conteúdo do livro. Os 16 dias na capital do país renderam o espírito do livro. Um espírito de esperança e diversidade. Brasília foi escolhida por representar o Brasil de forma tão singular. A cidade feita por pessoas de todas as regiões do país é uma mistura de raças, credos e sotaques. Cidade sem cara de cidade. Lugar que faz o visitante, logo à primeira vista, sentir-se parte dele.

Porém, antes de chegar à capital federal, o cerrado tomava os olhos. Aquela vegetação pobre, feita de arbustos e poeira era um aviso do que surgiria à frente. Cidades satélites ainda em construção, assim como o país, feitas de tijolos e poeira. Depois dessas cenas brutas, surgia um gigante branco. O Congresso Nacional. Onde, mais tarde, os pés marcariam os tapetes azuis do Senado e os tapetes verdes da Câmara. Nas áreas pobres, alguns olhos eram duros assim como os olhos dos dois Dragões da Independência que ficam como estátuas no alto da rampa do Palácio do Planalto. Mas havia esperança. Ela teimava em existir mesmo diante dos contrastes explícitos.

Do alto da cobertura do prédio espelhado do Superior Tribunal de Justiça avistava-se um povo que se queixava de falta de justiça. Muitos Silva trilhavam sobre as praças de pedra de Niemeyer e as pedras da periferia. Se Drummond tivesse nascido em Brasília, falaria que havia um caminho no meio de uma pedra. Eram intensos o movimento dos ambulantes nos passeios de acesso aos prédios dos ministérios e o movimento dos políticos nas esteiras rolantes no subterrâneo do Congresso. A brisa do Lago Paranoá, as cachoeiras artificiais do Palácio da Justiça, as piscinas das mansões dos lagos Sul e Norte não guardam semelhança com o ar seco das satélites. Em casas simples de cidades como Paranoá, Santa Maria, Samambaia e Recanto das Emas moravam os construtores de jóias da arquitetura reveladas em hotéis de luxo, como o Blue Tree Alvorada. Brasília, a frieza do concreto a desafiar o calor de sua gente. Gente permeada de esperança.

Pelas nossas andanças, encontramos um comendador que desenhava símbolos nacionais, brasões, selos. Em cada ministério visitado, conhecíamos uma espera diferente. Entre expectativas e frustrações, os encontros aconteciam. Alguns agendados, outros ocorridos ao acaso. Uma peregrinação pelas ruas do Planalto que fez com que nos encontrássemos, de formas diferentes, com os seis Silva do alto escalão do poder. Além de políticos e figurões, encontramos o povo que nutre de esperança aquele concreto todo. Enquanto um Silva governa o país, uma Silva pede esmola. No mesmo cenário, Brasília, se misturam poder e miséria, alegria e dor, passado e futuro. Aí nasceu Silva - o sobrenome do Brasil.

Observação do autor: Texto de apresentação do livro-reportagem "Silva - o sobrenome do Brasil".


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