Daniel Campos

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01/06/2012 - Dez anos sem Mário Lago

Há dez anos perdemos o artista que conseguiu unir com maestria o popular e a elegância em um mesmo palco. Há uma década estamos órfãos daquele que foi traído pelo tempo, com o qual tinha um acordo de viver eternamente. Perdemos o artista do coloquial, do improviso, do riso engajado. Há dez anos a partida do ator, do compositor, do jornalista, do escritor, do militante da política e da poesia nos deixou um vazio não preenchido. Sem Mário, sofremos de uma espécie de enfisema que não nos causa falta de ar, mas falta de arte.

Mário era filho de maestro e neto de anarquista. Marxista de alma. Apaixonou-se pela filha de um comunista. Batizou um filho em homenagem a Luiz Carlos Prestes. Mário, como todo pássaro, nasceu para ser livre. Porém, foi preso inúmeras vezes. Foi perseguido nos anos de chumbo. Nunca se calou. Era tricolor das Laranjeiras. Formou-se em Direito, mas o que exerceu mesmo foi o ofício da poesia. Mário Lago era a personificação do gerúndio, estava sempre atuando, compondo, escrevendo... Os palcos sem Mário Lago ficaram nus.

A ausência de Mário Lago dói sempre, principalmente em uma época em que o popular se confunde com o vulgar. Sua obra tinha classe, fineza, porte. Mário foi uma espécie de bruxo capaz de conceder leveza aos corações de pedra. Com sua morte, o encanto se quebrou e o óbvio atropelou o mundo artístico. Sem Mário Lago, a arte e a boemia e a política nunca foram mais as mesmas nesses dez anos. Sem Mário Lago, tudo tende a ser efêmero. Sem Mário Lago, aprendemos a cada dia que não existe nada além de uma grande ilusão.

Observação do autor: No dia 30 de maio de 2002, morria Mário Lago.


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