Daniel Campos

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Tempus

És o tempo indeterminado, és o temor, o tremor
E todo o meu eu amarrotado de sentimentos
Quebrados colados guardados. És a sensibilidade
Orgânica, a listra da zebra e a cidade que eu nunca
Construí. És o ciclo que eu nunca vivi, és o vínculo,
És o cio e o que mais ninguém viu. És a beleza uterina
E última, és a assassina que em minha seqüência
De versos ousou por fim. És o adverso, a namorada,
O universo, a orquídea de inverno e a minha bem
Ainda mais bem amada da primeira à derradeira
Linha. És plebéia e rainha, és platéia, és fumaça,
És grávida, és graça e garça que enlaça os céus
Num só véu. És o alento da noiva que não me
Foste, és o preâmbulo do meu esquecimento.
És forte, és sem-vergonha, és sorte, és o tempo
Que não passa. És a ameaça, o quinto ponto cardeal,
O calor das entranhas, o mantra das manhas e a
Promiscuidade angelical que tanto me estranhas.
És a promessa que o destino não cumpre, por medo
Ou azar. És o crepúsculo da madrugada, a ruptura
Dos conceitos e o seio doce. És a tontura fadada
Ao chão. És o mítico e o místico, a fera alada e o
Que ninguém nunca dantes me trouxe de modo tão
Cabalístico. És o querer bem e o bem querer, és a
Paralela longitudinal, és o amanhecer do trigo, és a
Dialética vaginal. És o pós-clássico, o pós-romântico
E o pós-real. És a conversa que se estende, és o sono
Sem dono, és o que não se entende, és o analgésico e o
Mais temido instinto suicida. És magia, anatomia,
Hemorragia e o que há por detrás da fantasia. És o uso
E o desuso dos cotidianos e de todos seus planos,
Anos, danos e enganos. És a poesia que eu chamo
Para perto de mim, és o oitavo céu, aquele acima
De qualquer serafim ou querubim. És o remédio
Contra o tédio, a esquizofrenia dos que nunca foram
Loucos, o desejo mais solto e o beijo que não se
Esquece. És a messe, és o porto, és a quebra, és o
Arrepio. És a lua que corre num rio torto. És
A última heroína e a primeira vilã do meu folhetim.
És a porta que eu nunca fechei. És a deixa que
Eu nunca deixei. És o que há e o que não hei
De haver. És o despautério, és a queixa, e o maior
Império dos meus trópicos, és mistério e sentido.
És a chama, és o tesouro, és a lama, és o agouro.
És a minha adolescência tardia, a minha paciência
A revelia e a minha hora mais vazia. És a mais
Perfeita linhagem de sonho nascida em meu tempo.
És o tempo indeterminado. És o que me foste e o que
Me deixaste ter sido. Nada além. Nada aquém. Do que
Me foste e do que me deixaste ter sido. És o que me foste
e o que me deixaste ter sido. És tempus.


Comentários

16/12/2010, por Cê Rocha:

Nossa!!!!!!!!!!!!!Pelo pouco que li e reli amei,vou continuar depois comento mais, parabens menino sigaaaaa


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