Daniel Campos

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Negrarias

O negro
Desce a serra da serração
Mais negro
Da noite e do carvão
Que teu corpo cobre
Que teu corpo pobre

Ah! Negro
Que leva o mundo
Em tuas costas
Pelas encostas
Do céu profundo
Vem cantando
Sua morte
Vem caminhando
A própria sorte

Nos teus pés o barro
Negro
É o boi negro do carro
Da vida
Que já vai desvalida
Pela tua lida
Negra, ò negro

Nos teus olhares
O choro de quem ficou
Além dos mares
E não se aprisionou
Lá vem o negro
De chibatas no lombo
Vem de tropeço e tombo

Negro onde está
O teu amor
Negro
Negro sabará
Pé de jabuticaba
Negro véu de noite
Onde acaba teu açoite
Negro
Fruta madura
Onde começa
Onde acaba
A sua loucura?

Ao lhe conhecer
O céu se abriu
O mundo partiu
O sofrer sumiu
E tudo mais
Ou nasceu
Ou se perdeu
Pelos canaviais
De um sentimento
Que tonteia
Até vento
Que vareia
O tempo

Sentimento forte
De corte
Amolado
Tomba cana daqui
Tomba cana dali
E casa seus nós
Tão sós
Lado a lado
Num amor fogareiro
Num amor açucareiro
Que vira queimada
E sobe ao céu
Cumprindo seu papel
De semear estrada.


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