Daniel Campos

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Enchente

O rio transbordou
O mar chegou
O lago virou
Tudo graças
Ao novo mês
De gravidez
De uma luz
Que para desgraça
Do dias seus
Se apaixonou
Por um deus
Que só sai à rua
Com sentimentos ateus.

Deu maré cheia
Deu arrebentação
Enxurrada carregou sereia
Peixe virou plantação
Quando a lua sozinha
Feito a última rainha
Cumpriu seu papel
E entre contrações
Relâmpagos e trovões
Chamou por seu rebento
O mais virulento
Vingador do céu.

Teve chama
Estrela parteira
Constelação parideira
No parto da lua
Que nua
Deitou-se entre arranjos
De cometas
E trombetas
Dos arcanjos
E o mar virou
E o rio chegou
E o lago transbordou
No suador
De um deus pecador.

Deu enchente
Deu estrela cadente
Deu nascente e deu poente
Tudo tão de repente
Na alma do poeta
Que andava de bicicleta
Pela rua
Procurando a lua
Sem saber que no fim de seu caminho
Esperava-lhe com nervos de linho
Uma dama em redemoinho.


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