Daniel Campos

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14/06/2010 - Vuvuzelas

Se o nome já é estranho, o que falar do som? A corneta plástica colorida, típica do mundial sulafricano de futebol, infestou as ruas. A epidemia já é maior do que a registrada pela gripe H1N1. O barulho surge como um espirro, inesperado e assustador. Quem pagará as quebras de pensamento provocadas por essas vuvuzelas? Chego a ter saudade dos caminhões de gás que passavam buzinando pelas ruas, ou dos produtores de laranja que convocavam a freguesia por meio de megafones, ou ainda dos vendedores de bijus que estralavam suas matracas pelas esquinas.

Podem me chamar de chato, mas é impossível para alguém que cresceu ao som do violão de João Gilberto suportar o estardalhaço das vuvuzelas. Não sou extremista. Gosto de encher os ouvidos com o canto matinal do galo, renovar minha fé nas badaladas de sinos, entreter-me com as batidas das teclas do computador. E o que dizer de ouvir, inesperadamente, a voz da criatura amada rompendo o silêncio da solidão? Esplendida é a trilha sonora do amor, com direito a cantos, declarações, sussurros, suspiros e gemidos.

Agora, se não bastassem às buzinas no trânsito, os insistentes toques de celulares, alarmes e despertadores digitais, eis as vuvuzelas. Desafio a encontrarem algo de lírico e agradável nessas cornetas que poderiam ser usadas, sem dúvida alguma, para espantarem leões, elefantes e outras feras da savana africana. Sem poder suficiente para decretar a proibição das vuvuzelas, torço para que a copa acabe logo. Enquanto isso, penso em arrumar as malas e viajar para algum lugar em que vuvuzela seja apenas um caso gramatical de neologismo.


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