Daniel Campos

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13/05/2008 - Uma nova abolição

Negro. Onde estão teus direitos, negros? Quantas correntes brancas ainda lhe prendem, negros? Negro, para onde foi a abolição da tua escravatura? Aboliu? Sumiu? Ninguém mais a viu? Corre negro pela estrada branca à procura da igualdade que se sonhou. Sonhou demais. Ah! Negro, aonde vai dar este navio negreiro? Ah! Negro, prisioneiro de um passado mal contado nos livros das escolas brancas.

Negro. Onde estão teus deuses, negros? Será que estão escondidos por detrás dos santos brancos? Onde está tua boca negra, teus olhos negros e teu útero negro para fecundar uma civilização de aves negras que possam voar rumo ao horizonte detrás dos montes estrelados salpicados de estrelas vestidas da noite negra. Ah! Negro, vamos brotar uma lavoura negra neste Brasil que não se assume negro. Ah! Negro, vamos sonhar um sonho negro nesta pátria que é africana, suburbana e tirana com seus filhos, negros.

Negro. Onde estão as senzalas e as casas grandes no meio desta rua? Ah! Vamos plantar, ao menos, um pé de esperança negra nesta selva de pedras brancas. Onde estão os cantos negros neste silêncio branco que sufoca, que oprime, que provoca e não redime dos males brancos que causou. Ah! Aves negras levando em seus bicos sementes negras de um futuro mais seguro e justo para essa nação de coração negro. E o coração, feito um tambor, pulsa negro e repulsa escravidão.

Negro. Onde estão as filhas da princesa Isabel? Será que estão abolindo ou fingindo abolição como tantas outras Isabéis? Ah! Destino cruel. Ah! Negro forte, destemido, leva o fardo de sonhar-te negro em teus ombros e luta e sofre e grita e sonha uma nova e verdadeira abolição. Ah! Sonha que a terra seja como os céus, que abrigam em perfeita harmonia duas luas, uma branca e uma negra, casando seus papéis.


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