Daniel Campos

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25/02/2011 - Uma escola chamada Nelson

A Estação Primeira de Mangueira vai trazer logo mais para a avenida o mundo encantado de um de seus fundadores e principais expoentes: Nelson Cavaquinho. Esse bamba da verde-rosa cruzou o meu caminho quando ainda menino meu pai me apresentou, meio que sem querer, ao seu violão boêmio. Desde então, o sambista me ensinou a amar como amam os sambistas: entre a flor e o espinho.

Passei a pisar nas folhas secas caídas de uma mangueira com mais cuidado, lembrando-me do poeta de voz rouca e cabelos brancos. Como nunca o vi frente a frente, lembro-me dele como numa ilustração do pintor de música Elifas Andreato. Durante muitos anos, vivi como Nelson, sempre só, procurando alguém que sofresse como eu também. Vivi pedindo para que as pessoas tirassem seus sorrisos do caminho para eu passar com a minha dor.

Nelson me avisou que nem todos são amigos e que se a gente for pensar muito na vida, morreremos cedo. Ele tentou me preparar de todas as formas para as dificuldades que estavam a caminho, falando-me coisas tais como: se a vida é tão boa porque ninguém nasce sorrindo. O tempo passou e agora, com essa notícia de que Nelson vai invadir a Sapucaí, passo a olhar com mais seriedade sobre o dia em que eu me chamar saudade.

Ao longo desses anos eu aprendi a chamar algumas pessoas de saudade. Agora, será que um dia me chamarei saudade para alguém? Como essa resposta é para sempre duvidosa, pois a sensação é de que nunca se fez o bastante para receber tal honraria que venham ainda em vida as flores, o carinho e a mão amiga. Venham sem medo, pois, como dizia Nelson, espinho não machuca a flor.


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