Daniel Campos

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25/08/2011 - Tudo apagado

Tudo apagado em mim. Tudo fosco, sem brilho. Toda luz que havia se esvaiu até o fim. Estou, por completo, desluminado. O fogo virou brasa que virou cinza que o vento levou. Não há incêndio, não há chama, não há uma fagulha sequer. Roubaram minhas estrelas de um modo que não é possível mais vê-las. Tudo sem cor, sem vida, sem calor. Pálido, ajoelho, mas nem deus é capaz de acender uma vela em mim.

O pranto que corre em mim desaguou nas fogueiras interiores e tudo se apagou. Até o magma que borbulhava em meus olhos virou rocha. No meu céu não há mais raios ou cometas, nem um corpo incandescente corta meu horizonte. E esfregando meu coração de pedra não há faísca sequer que consiga chamuscar um papel. Meu inferno é frio. Um frio que provoca ardor, pavor, torpor e escuridão.

Não há luz alguma em canto sequer. Blackout geral. As conexões entraram em curto. As lâmpadas de minh’alma explodiram. As tochas que vasculhavam meus interiores se perderam num pé de vento. As labaredas da minha memória queimaram até o último fio de felicidade. As reservas de ilusão – meu combustível natural – acabaram há dias. As flores de sol murcharam, secaram, abortaram suas sementes de luz.

Os pirilumes migraram para um ardume distante. Os balões de gás caíram no mar do breu que me banha. As lamparinas da minha imaginação foram abandonadas. Os faróis foram engolidos pela névoa dos meus pensamentos. Como eu não fumo, os cigarros e charutos e cachimbos, com seus flagelos de fogo, se foram em outras bocas. Sem um fósforo sequer, tudo apagado em mim.


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