Daniel Campos

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São demais

São demais os mistérios que rodeiam uma mulher. São demais as cores e as sombras que fazem uma mulher. São demais as orquestras que habitam o silêncio de uma mulher. São demais os perigos que se afogam no colo de uma mulher. São demais os feitiços que rondam os olhos de uma mulher, (são elmos, magos, bruxas, fadas, deuses de todos os credos que se dão nos olhos de uma mulher). São demais os sonhos adormecidos no cabelo de uma mulher. São demais as formas que a geometria não soube definir presentes em uma mulher. São demais os apelos que exalam de uma mulher. São demais os ângulos criados pelo andar de uma mulher. São demais os murmúrios trazidos pelos segredos de uma mulher. São demais as alucinações que mesmo em face de tantas impossibilidades emergem de uma mulher. São demais os medos provocados por uma mulher. São demais os planos em que se esconde uma mulher. São demais as loucuras (em forma de prazer ou sacrifício) feitas por e para uma mulher. São demais os enganos escondidos em uma mulher. São demais os escândalos. São demais as hipóteses. São demais as vontades. São demais os amores hipocondríacos que se alimentam dos mistérios de uma mulher.

A mulher citada acima não é uma mulher comum. É uma mulher que se faz enquanto arte. É uma mulher que se encontra enquanto poesia. É uma mulher que não possui um destino real. É uma mulher que se encontra solitariamente num copo de uísque no fim de uma noite. É uma mulher que é aprisionada para além dos porta-retratos. É uma mulher que ninguém conhece plenamente. É uma mulher que se transforma numa personagem de si própria. É uma mulher que surge enquanto inspiração. É uma mulher que é formada por prosas e versos. É uma mulher que anula distância e tempo. É uma mulher que provoca sentimentos. É uma mulher que vive em uma partitura, em uma tela, em um papel. É uma mulher que é noite, que é lua, que é beleza, que como a palavra, é feminina. É uma criatura que se cultua e, mesmo com todas as tentativas, não se explica. É, definitivamente, uma mulher.

Ninfas, musas, divas, deusas, simplesmente, mulheres. Criaturas que parecem ter deixado o monte Olimpo, na Tessália (norte da Grécia, perto do mar Egeu) e se espalhado pelo mundo. A magia de uma mulher talvez esteja na origem. Zeus, o deus supremo da mitologia grega, quando criou a mulher, fê-lo para agradar o homem. Ela foi criada no céu e cada deus contribuiu com alguma virtude para aperfeiçoá-la. Afrodite lhe deu a beleza, Apolo lhe deu a música,... Então, ela surgiu com ares de perfeição. Pandora, eis seu nome, guardava os bens que cada deus lhe dera como presente de casamento numa caixa, a qual fora proibida de abrir. Certo dia, Pandora abriu a caixa e os bens escaparam, exceto a esperança. A esperança que carrega uma mulher. A esperança de amores, vidas e outras crenças.

Quem será essa mulher?

Será obra do acaso ou da alucinação mais que perfeita?

Será obra da dor de um deus apaixonado ou da loucura dos astros?

Será obra do encontro ou da separação?

Será, o que será essa criatura que chamam mulher?

E se for obra do maior dos acasos? E se for obra de uma primavera mais inspirada?

E se for obra de uma alucinação sem cortes? E se for obra da loucura dos astros?

E se for obra da dor de um deus apaixonado? E se for obra de um sonho impossível?

E se for... quantas serão as vezes que nos apaixonaremos por essa poesia chamada mulher?


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