Daniel Campos

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09/08/2011 - Reviravolta

Nunca pensou em se divorciar. Achava que tinha algum problema por nunca ter pensado isso. Não tinha motivos para cogitar a separação. Não desconfiava da mulher com quem era casado há dezesseis anos. Nem se lembra de quando foi à última vez que brigaram. Jamais ficou tentado a trair sua esposa com quem quer que fosse. Gostava de seu jeito, de seu corpo, de suas manias, de seus temperos, de suas roupas, de seu cabelo, de sua voz, de seu sexo, de seu andar, de seus sapatos...

Gostava de um tudo em se tratando dela, era seu admirador convicto e nada secreto. Sempre fazia juras e gestos para afirmar e reafirmar seu amor. Convivia de forma harmoniosa com os parentes e amigos da mulher. A sogra o chegava a chamar de filho. Também não tinha problemas com os chefes e colegas de trabalho dela. Jamais precisou beber ou fumar ou se drogar para tentar esquecer algo de ruim que tivesse sido provocado pela esposa.

Gostavam do mesmo tipo de filme, dos mesmos lugares, dos mesmos pratos, dos mesmos bares, dos mesmos ritmos musicais, dos mesmos jornais, dos mesmos cheiros, dos mesmos destinos. Todos diziam que eles eram verdadeiras almas gêmeas. E ele sempre se encheu de orgulho por conta disso. Sempre até hoje. Acordou angustiado com tanta paz e felicidade. Tudo parecia tão perfeito, tão fácil, tão acabado. Foi então que, ainda na mesa do café da manhã, mesmo nunca pensando no assunto, pediu a separação.

Quebrou pratos, jogou copos contra a parede, chorou, esbravejou, vomitou. Ela não acreditou no que viu. Ele subiu até o quarto e, pegou uma mochila com algumas roupas e, deixou a aliança num cinzeiro e avisou que estava indo para um hotel. Em breve um advogado a procuraria para tratar da documentação. Ela entrou em choque. Ele saiu, passou num boteco, tomou uma dose do conhaque mais vagabundo que encontrou, assoviou para outras mulheres, cortou o cabelo e fez uma tatuagem com o nome dela.


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