Daniel Campos

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30/03/2010 - Rei dos sem reinos

Quando a noite chegar, vou-me embora. Vou-me embora para um reino sem rei. Chega de duelar, de trabalhar, de matar dragões. Chega de ser plebeu de brasão. Chega de escutar histórias de feiticeiros. Chega de viver de masmorra em masmorra. Chega de guerra e de guerrear. Chega de távolas redondas, quadradas ou triangulares. Chega de coroas e cetros dizendo para eu fazer isto e aquilo. Chega de calabouços. Chega de forjar espadas nos ossos da morte. Chega de, no meio do caminho, haver sempre um rei de pedra.

Vou partir para um lugar onde não haja hierarquia, monarquia, mais-valia. Senhor escudeiro, por favor, sabe me dizer para onde fica o reino sem rei. Se buscas fantasia, não troca a realeza pela anarquia, responde. Meu caro bobo da corte, como faço para chegar ao reino sem rei. Você vai ter de pegar um foguete e embarcar para um planeta que não tenha o bicho-homem, responde. Ò cavaleiro, o que tenho de fazer para viver em um reino sem rei? Ora, é só matar o velho. Se pagar bem, furo-o com minha espada, responde.

Ninguém entende. Ninguém compreende. Ninguém aprende que depois de um rei vem sempre outro rei. E eu não quero saber de tirania, de dinastia, de hegemonia, de valentia. Os banquetes reais são pra poucos. Os aposentos reais são poucos. Os mantos reais são poucos. E já que não dá para ter num reino sem rei, eu quero um reino com muitos reis. Eis a solução! Para começar, quero me casar com a rainha, ou pedir à mão da princesa, ou flertar com a dama da corte. Afinal, também sou rei. O rei dos sem reinos.


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