Daniel Campos

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20/02/2013 - Quero ser nada

Quero ser nada, como o vento da volta que sopra de mãos vazias depois de espalhar sementes e notícias pelos trópicos. Quero ser nada, feito folha que cai sem vontade de ficar presa a lugar algum. Quero ser nada, a exemplo da lua nova que submerge sem cor pela escuridão. Quero ser nada, feito agenda de preguiçoso. Quero ser nada, no melhor estilo de uma prece sem fé. Quero ser nada, seguindo por aí feito boca de quem não come há dias. Quero ser nada, como teoria que não leva a lugar algum.

Quero ser nada, tristemente ou felizmente nada de coisa alguma. Quero ser nada, no mais completo sentido dessa afirmação. Quero ser nada em matéria de sonhos, de projetos, de perspectivas. Quero ser nada, o nada e a nada, sem distinção de sexo. Quero ser nada, como palco depois da última cena. Quero ser nada, como porta que dá para o esquecimento. Quero ser nada, principalmente nas horas que tudo dá errado ou, até mesmo, certo. Quero ser nada, no tempo e no espaço que me rodeiam.

Quero ser nada, para além de toda filosofia, religião e fantasia. Quero ser nada, do começo ao fim de cada capítulo que leio, vivo ou escrevo. Quero ser nada, ponto divisível e finito no horizonte. Quero ser nada, como nuvem que não diz coisa com coisa. Quero ser nada, falível e previsível. Quero ser nada, não constando em mapas ou enciclopédias. Quero ser nada, como texto barato depois da ação da borracha. Quero ser nada, ao menos, enquanto todos quiserem ser tudo.


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