Daniel Campos

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19/09/2015 - Quando o violeiro passou

Quando o violeiro passou tocando sua viola, o asfaltou rachou e pé de tudo quanto é coisa brotou. Quem pedia esmola passou a pedir bis. A cidade se alegrou e até a dor pensou que era feliz. Quem estava sozinho se juntou e quem vivia separo se reencontrou. A música tomou de conta dos edifícios, do primeiro ao último andar, e desfez a impressão de que amar era um bicho difícil. O lixo virou semente. Doente saiu do hospital a dançar. Quando o violeiro passou, sobre o seu cavalo, tocando sua viola, tudo quando foi galo de enfeite cantou. Como circo chegando antigamente, a cidade se enfeitiçou e não falou de outra coisa senão da batida do violeiro que foi absorvida por dentro até mesmo por quem já vivia com o peito seco. A música floriu o beco, plantou sonhos na avenida e revirou a terra dos corações, preparando-os para receber o amor. Quando o violeiro passou de cavalo, viola e chapéu até quem não acreditava em santo, tomou-se de encanto pelas coisas do céu. E quando o violeiro passou, indo-se embora, sem demora a noite caiu e sua viola pintou no céu uma lua de mel. E teve apaixonamentos e entregamentos e casamentos num piscar de segundos como se o amor tivesse chovido no mundo.


Comentários

22/09/2015, por Ernestina Silveira:

O mundo tá precisando de um violeiro assim. Tudo tão sem graça. Realidade dura. Falta poesia.


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