Daniel Campos

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25/06/2011 - Quando o sol chegar

Depois de amanhã, quando o sol chegar, não vou sequer sair do lugar. Vou esperar na minha cama o futuro das ciganas, os amores de cabanas, as santidades profanas. Vou me emaranhar nas cordas de aço de um violão vagabundo, vou me embrenhar nas contas do seu coração moribundo. Vou esticar uma rende entre seus lábios e ficar ali tão perto tão quieto. Vou pedir uma canção inédita à primeira estrela que passar e, de verso em verso, vou lhe chamando para ficar e me amar...

E daí eu vou explodir, feito cigarra, de tanto cantar. Vou me jogar ao vento e deixar você ir buscar. Vou me espedaçar em mil palavras só para você me catar e me remontar. Sou seu quebra-cabeça. Sou seu pôquer das noites de terça. Sou seu passado, seu passatempo, seu pássaro. Sou sua palavra à toa, a roupa suja que ensaboa, o tom que destoa. Sou tudo isso e mais um pouco, mas, depois de amanhã, quando o sol chegar, não vou mais sair do lugar.

Depois de amanhã, vou viver como pedra, como parasita, como árvore. Para eu me movimentar, só se for pela ação do vento ou da maré. Vou viver como poemas rejeitados, no fundo das gavetas, no meio de um livro esquecido na estante, num papel amassado na lata do lixo. Vou ficar como centro-avante na banheira, como surfista na maresia, como gato na almofada. Vou me entregar às pausas do tempo e aos silêncios da alma, quando o sol chegar...


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