Daniel Campos

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21/12/2011 - Primavera das sombras

A primavera se vai cheia de dor, carregada pelas águas das chuvas. A primavera corre pelas enxurradas e é engolida pelas bocas de lobo e se mistura ao barro, ao esgoto, ao lixo. No final das contas, a primavera, mesmo sem querer, causa mortes e medo e pranto. Será que a primavera não é tão boazinha quanto parece? Será que há algo de Alfred Hitchcock na primavera ou tudo não passa de um mal entendido. A pergunta é coerente, pois o período da primavera está cada vez mais associado a desastres naturais do que propriamente a jardins floridos e perfumados.

Será a vingança de uma natureza que não suporta mais os malfeitos do homem? Será que a princesinha das estações mostrou que também tem garras afiadas? Cidades alagadas, casas soterradas, vidas afogadas. Parece que inverno e verão resolveram brigar constantemente pelo território da primavera. Calor e frio não se entendem na época das flores. Não é à toa que Perséfone, a deusa da primavera, é também a deusa do submundo. Realmente, é da morte que surge a vida.

Assim como a divindade grega, filha do senhor dos deuses e da senhora da colheita, a nossa primavera tem duas faces. A face de luz e a face das sombras. Enquanto as flores seduzem um grande número de pessoas, as chuvas despertam sementes e tristezas. Depois que Perséfone comeu o fruto do submundo, a romã, parte de sua inocência foi perdida. Por isso, a primavera tem também as suas sombras...


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