Daniel Campos

Imprimir Enviar para amigo
24/11/2014 - Perfume da memória

De vez em quando, sobe um cheiro de mato pelos confins do meu tempo. Perfumes de capim molhado, de raiz forte, de fruta madura vão se misturando pelo estradão das minhas memórias. Tudo vai ficando tão nítido e tão perto novamente de mim. É como se eu vivesse uma época que já não existe aqui do lado de fora. A essência da terra molhada vai calando lá no fundo das minhas lembranças. Numa chuva volto a ser criança, menino-sonhador. Fecho os olhos e vejo um latido fazendo festa, cheirando a cachorro molhado, chacoalhando a chuva que tomou. O galo canta limpo, como se a água limpasse sua garganta. As pererecas fazem festa, assim como os sabiás, bem-te-vis, curiós. O joão-de-barro já prepara a reforma da sua casa. A galinha chama os pintos pra debaixo de sua asa. A pitanga, o caju, a jabuticaba vão ganhando ainda mais gosto no pé. O vento vai regendo a perfumaria. Um balé de cheiros entranhado no meu temporal que a chuva, outra vez, coloca em pleno movimento.


Comentários

Nenhum comentário.


Escreva um comentário

Participe de um diálogo comigo e com outros leitores. Não faça comentários que não tenham relação com este texto ou que contenha conteúdo calunioso, difamatório, injurioso, racista, de incitação à violência ou a qualquer ilegalidade. Eu me resguardo no direito de remover comentários que não respeitem isto.
Agradeço sua participação e colaboração.

voltar