Daniel Campos

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25/03/2015 - Pe(r)dição

Ela me pede um beijo, não dou. Ela me pede para ser seu super-herói, não sou. Ela me pede um abraço, passo. Ela me pede uma cena obscena, faço cinema. Ela me pede o proibido, dou como lido. Ela me pede um cachorro, corro. Ela me pede “não solta”, dou volta. Ela me pede resposta, dou as costas. Ela me pede em casamento, entrego ao vento. Ela me pede uma oportunidade, falo em saudade. Ela me pede uma dança, digo “não cansa?”. Ela me pede um sorriso, peço juízo. Ela me pede colo, amolo. Ela me pede estrada, dou em nada. Ela me pede atitude, fico amiúde. Ela me pede futuro, depuro. Ela me pede um sonho, proponho. Ela me pede tamarindo, vou indo. Ela me pede minha boca, chamo-a de louca. Ela me pede afeto, veto. Ela me pede para deitar em seus seios, volteio. Ela me pede um toque, digo “não provoque”. Ela me pede miragem, eu aragem. Ela me pede sementes, faço-me ausente. Ela me pede trégua, vou a léguas. Ela me pede choro, quebro o decoro. Ela me pede presença, peço licença. Ela me pede carinho, aninho. Ela me pede cumplicidade, dou realidade. Ela me pede desordem, sou pela ordem. Ela me pede casa, só tenho asas. Ela me pede um canto, espanto. Ela me pede cupuaçu, dou umbu. Ela me pede que a deixe descalça, vou numa valsa. Ela me pede o que não espero, faço-me bolero. Ela me pede mambo, sou tango. Ela me pede para me ver nu, desligo o abajur. Ela me pede companhia, dou poesia.


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