Daniel Campos

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01/04/2011 - Pássaro sem asas

Pássaro sem asas, isto é o que sou. Um condenado ao solo. Vou e não vôo. Presa fácil. Alguém que flerta com o céu e não pode tê-lo. Como seria bom deslizar por correntes de ar em feitio de um veleiro. Mas não tenho asas ou velas que me ascendam aos anjos. Sou apenas um pássaro sem asas. Um ser incompleto e limitado. Ao contrário de transitar por entre nuvens, encho-me de ferrugens. Ao contrário de ser nômade, pegando carona no vento, tenho endereço fixo e pés com funções de raízes.

Daqui de baixo, tento criar uma gramática própria para me comunicar com o pássaro pleno que eu não sou. Que eu não pude ser. Mesmo de longe, as aves me dão um novo conhecimento de mim e do mundo. O decolar, o planar, o aterrissar, enfim, o balé de um pássaro reproduz sons e, consequentemente, palavras que os ouvidos humanos não são passíveis de compreender. Mas eu, que sou metade homem metade pássaro, tenho sonhos pesados demais para voar e um coração alado, aprisionado em um peito.

Só amando é que me sinto capaz de subverter a lei da gravidade e me aventurar pelos sete céus. O amor, mesmo que de forma abstrata, me coloca em vôo. E eu milagrosamente sou, ou melhor, passo a ser quem a física não me permite ser. É o milagre do amor o que me mantém vivo, que me dá paz e sentido. Voar é preciso nem que sentimentalmente falando. Tenho pena dos que não amam e, por isso, não voam de forma alguma, em momento algum.

Pássaro sem asas, isto é o que sou. Um condenado ao amor.


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